Arrependimentos de um corrompido

* O rosto parece inocente, não exprime as mágoas nem as malícias, não externa o verdadeiro eu que me habita. O rosto promete leveza, pouca idade e muita ingenuidade. Não revela minhas tristezas pelo mundo e as marcas que corrompem a alma, fardos que ninguém acalma.

* A maioria ainda te julga pela aparência, eu muitas vezes também sou assim, também profiro maledicências. Seguro a língua para não pecar, ainda não soube erradicar os pensamentos maldosos. Contenho meus olhos, são eternos aprendizes, muito para ver e apreciar, nunca serão aptos a impor diretrizes. Também sou egoísta, a mente restrita, dia após dia tento mudar, refletir esse cenário, descobrir como ajudar. Sou voluntariamente magoado, deixo as mazelas se infiltrarem livremente, sou naturalmente indignado, é um peso extremo para a mente. Quem disse que não é um fardo ser consciente?

* O corpo, a idade e os olhos - pequenos demais para carregar grandes ideias. Eu não quero mais mentir, enganar ou fugir. Eu quero findar a corrupção, valorizar a verdade. É muita pretensão, mas não consigo me adequar e resignar, assim continuarei; mesmo que a sociedade condene e ative suas sirenes.

* Ainda não consigo. Ainda sou desprezível. Malícias me envolvem, relações breves me consomem, vivencio tragédias do cotidiano que se repetem ao longo do ano. Não creio que devo seguir o padrão, não creio que é impossível mudar de condição, não creio que só a maldade impera; apenas creio que podemos melhorar a nossa era.

* Quanta esperança e ideologia, valores que a sociedade aniquila! Meu fardo é falar muito e conseguir pouco. Tropeço em minhas crenças, atravesso nossas diferenças. Como melhorar? Como não pecar? Eu sofro por mergulhar em erros, por me afogar no desespero. Mesmo assim a preguiça e a cobiça - vícios que a gente tenta se livrar – mas o mundo nos atiça...

* A contrição me pesa, mas não estou habituado com Deus e a reza. Eu não queria, mas peco todo dia. Esse é o maior dos fardos, querer ser puro mas viver envolto de pecados.

Priscila Silvério
Enviado por Priscila Silvério em 14/08/2011
Código do texto: T3160089
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