FAÇA-SE SILÊNCIO...
Faça-se silêncio
Para que a minha sensibilidade auditiva
Não sinta a mínima perturbação
Quero ouvir as árias que as aves me oferecem
Os chamamentos das correntes dos rios
Os gritos lançados pelos animais
Através da dor que os flagela
Os gemidos dos amantes quando se possuem
Faça-se silêncio
Quando as bombas caem sobre as cidades
Para julgarmos ao pormenor a crueldade do agressor
E lamentarmos
Com lágrimas
Os inocentes que tombam na rua sangrenta
Faça-se silêncio
Quando a minha alma precisa de ternura
Que muda e queda sofre de solidão
Quando os meus braços requerem o abraço ausente
Quando os meus lábios secos exigem lubrificação
E os meus olhos não querem tremer face à precipitação
Faça-se silêncio
Quando o silêncio é razão de vida
Debruçado sobre a varanda do futuro
Quando chove
Quero ouvir as palavras que a torrente tem para me dizer
Palavras só nossas
Suaves
Como história que se conta às crianças
Adormeço
Em silêncio.