FAÇA-SE SILÊNCIO...

Faça-se silêncio

Para que a minha sensibilidade auditiva

Não sinta a mínima perturbação

Quero ouvir as árias que as aves me oferecem

Os chamamentos das correntes dos rios

Os gritos lançados pelos animais

Através da dor que os flagela

Os gemidos dos amantes quando se possuem

Faça-se silêncio

Quando as bombas caem sobre as cidades

Para julgarmos ao pormenor a crueldade do agressor

E lamentarmos

Com lágrimas

Os inocentes que tombam na rua sangrenta

Faça-se silêncio

Quando a minha alma precisa de ternura

Que muda e queda sofre de solidão

Quando os meus braços requerem o abraço ausente

Quando os meus lábios secos exigem lubrificação

E os meus olhos não querem tremer face à precipitação

Faça-se silêncio

Quando o silêncio é razão de vida

Debruçado sobre a varanda do futuro

Quando chove

Quero ouvir as palavras que a torrente tem para me dizer

Palavras só nossas

Suaves

Como história que se conta às crianças

Adormeço

Em silêncio.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 26/08/2011
Código do texto: T3183727