MAIS UM SENTIDO

Existem cinco sentidos que são normais para quase todo mundo. Só não tem todos os sentidos aquele que se privou de um deles: ou foi privado por determinação cósmica, ou por castigo merecido para expiação. Existem, portanto, os dons e os talentos que estão além dos sentidos e somente pessoas especiais podem trazê-los à tona. São os sensitivos, que por evolução pretérita derrubaram a barreira da animosidade. Quebrem a barreira da animosidade! Ensinar-lhes-ei um nobre exercício. Os aborígines se utilizam dele para evocar seus deuses. A animosidade não permite que o indivíduo provoque qualquer fenômeno. É preciso, primeiro, desfazer-se da repugnância: a repugnância afasta qualquer coisa, inclusive o Eu Superior. É preciso livrar-se dos rancores: o rancor não permite a depuração de máculas e estimula más lembranças sobre os fatos a que originou o rancor. É preciso livrar-se das quizilas: a quizila provoca patologia múltipla e um doente não pode provocar qualquer fenômeno. É preciso livrar-se das ojerizas: a ojeriza é sentimento enfermo, é um estado subjetivo da mente que atenta para certos particulares, os quais sempre estão presentes para distrair os ideais e põe a mente à deriva. É preciso desfazer-se do ódio: o ódio é o grande vilão da evolução. É ele que impede a escalada, desvio de caminho, é retrógrado, e um perfeito acumulador de máculas, pois evita o perdão. É preciso livrar-se do orgulho: o orgulho impede o perdão, porque o orgulhoso jamais pedirá perdão por seus atos falhos. É preciso livrar-se das inimizades: aquele que tiver um só inimigo jamais será feliz, pois não terá a paz. Sem paz o postulante nada consegue, pois não tem a concentração necessária para prosseguir. Livrem-se também de seus inimigos! Mas não os ceifem, perdoem-nos. É preciso livrar-se do horror: os horrores são os fantasmas que cruzam pela mente para que deixem os exercícios. Esses fantasmas são suas máculas que virão à tona de quando em quando, e são representadas por fisionomias estranhas, horripilantes e canhestras; fatos estranhos, horripilantes e canhestros; lugares estranhos, horripilantes e canhestros. São barreiras de difícil transposição. É preciso livrar-se da gana: a ganância prende o indivíduo aos prazeres da terra. Ela estimula a ira, a inveja, e torna qualquer um, um adversário e inimigo. Ela preza a riqueza material irresponsável, às orgias, às alegrias infestas e ao descaminho. É preciso livrar-se da aversão: a aversão é própria do animal. É um estado psíquico inferior e não permite o respeito, pois é impulsiva e compulsiva. O compulsivo não tem domínio de nada, faz tudo através do instinto animalesco trazido da animosidade — é próprio do ser indouto. É preciso livrar-se também da antipatia: a antipatia afasta do indivíduo os seres de alta grandeza, assim como as pessoas do convívio. Livrem-se de todas essas más qualidades e coloquem em seu lugar o inverso, pois os inversos são boas qualidades que ajudarão no crescimento: são elementos que desaguarão na pureza, na retidão e nos bons costumes. Agora vou ensinar-lhes o exercício que levará a isso — continuou o Mentor: procurem um local espaçoso, arejado e solo fofo. Iniciem-se girando em torno de si mesmos no sentido anti-horário. Continuem girando como se estivessem fazendo a brincadeira de quebrar o pote. Se tiverem náuseas, não se preocupem; se regurgitarem o que comeram, não desistam. Continuem com o exercício por vários dias, então não terão mais tonturas. A aura de cada um se tornará consistente, maciça, completa e bem junto do corpo; não permitindo nenhum assédio de energias de baixas vibrações; equipara os dois hemisférios do cérebro, desenvolvendo a imaginação, inspirando a visão da beleza, inspirando à produção de sons equacionados e a sensibilidade total. Estimula também o aparecimento de novas faculdades necessárias para a fixação dos carismas, talentos e dons; e ainda, prepara para a produção de fenômenos incríveis.

Este texto foi retirado do romance “O Mentor”.