O Roubo da Roupa do Papai Noel
- Fala, menino! O que faz aqui na delegacia, tão cedo?
- É que não consegui dormir, senhor delegado. Minha consciência não me deixou em paz e por isso estou aqui.
- Mas do que se trata? O que foi que você aprontou de tão grave?
- Bem, talvez eu esteja aprontando agora. Não tenho certeza se devo falar, mas na verdade meu coração me diz que mesmo que eu sofra, eu deva revelar um fato muitíssimo grave.
- Hummm. Já que teve coragem para vir, não vá carregar pelo resto da vida o peso de ter desistido. Calma, garoto; respire fundo e fala.
- Gostaria primeiramente também de saber como faço para entrar no programa de proteção às testemunhas. Meus pais tem uma ligação familiar e profunda com o acusado e podem vir a me ameaçar.
- Isso se verá depois. Conte primeiro o que sabe.
- Bem, ontem à noite, lá casa....
- Sim!
- O senhor sabe, foi o dia em que o Papai Noel iria entregar os presentes. Eu fiz de conta que estava dormindo, mas qual criança dormiria numa hora destas, não é? Não sei por que os adultos pensam que a gente deita e desmaia de sono. E aí começou o meu pesadelo.
- Mas você falou que não dormiu, menino!
- Pesadelo acordado, doutor. Eu vi algo de que nunca me esquecerei.
- O que você viu?
- Eu vi um crime, senhor doutor delegado.
- Crime?
- Sim... Eu ouvi um barulho. De soslaio, dei uma olhadinha e na porta do meu quarto que estava escuro, eu vi a silhueta do Papai Noel. Meu coração disparou de emoção. Ele trazia uma bicicleta mal embrulhada nas mãos. Caminhou até o meio do quarto e a depositou ali. Até aí tudo bem. Mas quando ele virou as costas, foi que estremeci. Ali estava a prova que me faria infelizmente voar até aqui quando o dia amanhecesse.
- Caramba! Conte, conte!
- Foram os sapatos! Olhei para os pés do Papai Noel, e para minha surpresa, calçavam as sandálias do meu avô. Antes que eu me desse conta, já reconhecia seus passos incertos. E então eu ouvi ele falando na porta para meus pais:
- Ho ho ho! Não falei que ele nem desconfiaria. Papai Noel que se cuide, que se eu estiver por aqui no ano que vem, vou vir com seu trenó e tudo!
- Menino, me diz calmamente, qual foi o crime que seu avô cometeu?
- Minha mãe diz que ele está maluquinho, mas nunca, nunca pensei que veria um momento insano dele ao roubar a roupa do Papai Noel, só para enganar seu neto, que sou eu. Mas anote aí que eu já li a respeito. Por acreditar no Natal e sofrer um dano psicológico pelo resto dos meus dias, acuso meu avô de:
-Falsa Idoneidade.
-Furto Qualificado.
Torço de coração para que o Papai Noel seja encontrado, mas maluco como meu avô é, não duvido de mais nada.
Mas o que mais me revolta era sua cara de felicidade ao me ver acordar e pegar a bicicleta e sair correndo para vir até aqui.
- Me dê uma carona na sua garupa e vamos lá agora prender este meliante! !