Compulsão

Invejo, é verdade, a compulsão que algumas pessoas têm para escrever. Houve um tempo em que eu escrevia assim, sem me preocupar com quem quer que fosse ler as palavras despejadas como uma catarse.

Catarse, acho que esta é a palavra. Uma necessidade viceral de expor o que vai na alma. E eis que os espaços em branco tornam-se divã para o escrevinhador compulsivo.

Compulsão... senso de dever com os próprios sentimentos. Comprometimento único e claro com as próprias verdades.

E eis que denominamo-nos poetas, por termos essa coragem.

Atualmente escrevo pouco, muito pouco. O que mais faço e desencavar velhas poesias que escrevia nos tempos em que minha inibição da super exposição inexistia.

Expor-se... talvez seja isso que motiva os poetas de todos os estilos a desafiar o mundo e às críticas. Rasgar-se em público, derramando poesia...

Talvez eu tenha deixado de ser poeta, ou o poeta que em mim habita esteja adormecido. Talvez minha alma tenha envelhecido e cedido lugar a um tímido e rabugento leitor...

Ainda assim eu teimo. Se há morte quero exumar textos antigos. Quem sabe eu ressucite em definitivo este poeta que anda letárgico em mim.

Pois que retorne a compulsão! Que as almas expostas na rede me inspirem e encoragem a produzir mais. Que minha autocrítica corrosiva não limite mais a minha vontade de escrever. Que minha alma envelhecida perca o medo do ridículo.

Que venha a compulsão!