Sobre nossa separação

Escrever é minha forma de me encontrar.

Ou eu não sei ou eu não lembro onde as coisas desandaram... Ou nem percebi.

Estava submersa numa realidade paralela, que eu criei com um objetivo: O de não magoá-lo nunca mais, o de não deixá-lo nunca mais...

E dos planos que criei em cima disso para tornar tudo mais real.

Eram projeções dos meus objetivos multados pelo sentimento forte que guardo por ele.

Mas não existe o pra sempre, o sem fim, o nunca mais. Somente na história sem fim que recheou minha infância. Somente a infância que cultivarei aqui para não perder o brilho do olhar e a dor de encarar a realidade. Onde tudo é sempre novo.

Uma coisa eu aprendi, quase decorei: “Vamos ver no que dá.”

Sobre nossa separação:

Eu nunca esperei, como você esperava, e falava tantas vezes. Eu senti quando a hora estava chegando, mas nunca se espera que uma coisa dessas vá acontecer. É uma morte.

Dizem que só se tem uma vida, consequentemente, uma só morte.

Imaginando todo o discurso, fui disposta a aceitar. Caramba, foi a pior coisa que fiz, porque você parecia estar disposto a adiar... Adiar... Não, não parece ser algo que eu faria. Ansiedade me mata, eu também morreria pensando que você não estava feliz ao meu lado, naquela situação toda.

Concordo que a relação não estava das melhores, concordo que meu humor não estava dos melhores nos últimos meses, mas também deve admitir que o seu não estava também o melhor. Esquecemos de nos comunicar, estávamos apenas jogando palavras para o alto e satisfazendo nossa carência do calor do outro.

O tempo que nos separa desde então tem feito coisas horríveis. Ou eu tenho feito do tempo que nos separa uma coisa horrível. Ou coisas horríveis tem feito o tempo que nos separa. Numa separação o mundo vigente entra num redemoinho e vai sendo sugado lentamente, embaralha a visão, as coisas que se fala e escuta são distorcidas... Tudo fica confuso... E não estou no lugar seguro para falar sobre isso agora, ou não saberia mais como explicar.

Estou sem ar. E sem chão. Perdi o céu que eu procurava em poucos momentos de solidão, e a terra que eu corria para te encontrar. Não é para eu ficar caída, nem é para eu sair por aí correndo, nem é para eu ficar parada... Continue a se movimentar. Encontre o ritmo...

É difícil voltar a achar uma motivação para muitas coisas que fazem parte da sua rotina, e que outrora se tornaram parte integrante dos projetos feitos a dois. É difícil voltar a ter a imaginação, a intuição, a inspiração de antes, porque o sentimento de dor é tão forte que devasta e consome toda e qualquer outra energia de dentro pra fora.

O seu rosto cai, os seus olhos afundam, os membros se balançam sozinhos e os passos passam a ser ainda mais automáticos, tão automáticos quanto as perguntas sobre meu estado, bem como a resposta em seguida.

É difícil admitir que "não, nada está no lugar". E, "eu estou mal, preciso de ajuda". Preciso me ajudar... É mais difícil ainda encontrar os meios de se levantar, pior pôr em prática, e não existe nada mais doloroso do que mantê-los em prática. Nada é natural, nem o respirar parece mais ser natural. Tudo está fora do lugar até que se acostume novamente com outros pensamentos, outras reações para esses pensamentos e outros comentários, outras procuras, outros focos, objetivos... TUDO está fora do lugar.

E até que a tempestade passe permanecerá o redemoinho nesse grande mar de ilusões, lembranças e esperanças. Para que um dia acabe e dê lugar para um mar calmo e propicio para remadas.

A página a virar é pesada e comprida, demora até conseguir tombá-la.

Queria esmiuçar mais minha mente, e encontrar uma resposta rápida.

O que eu devo fazer daqui pra frente? Seguir a vida como, se a lógica foi modificada?

Surge me também questões sobre o amor. O que ele era pra mim, e o que será depois disso...

Saudade do chá antes da despedida.

Do chocolate no sofá.

E do filme no quarto.

E das coisas que fazer sem você não tem graça.

Saudade das risadas. Saudade do seu sorriso.

Mas a saudade, eu entendi, é uma prisão ao passado.

Ah... Uma coisa deve ser eterna em mim: minhas lembranças.

Mas que ironia eu não ser eterna também...

Sabrina Vieira
Enviado por Sabrina Vieira em 30/09/2011
Reeditado em 28/09/2012
Código do texto: T3249060
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