Será que saberei ser avó?
 
 
          
          Há muito tempo o dia das Crianças perdeu os sons, sabores, expectativas e cores de anos atrás. Não saio mais a procura do presente e do lugar para o passeio. Há muito não choro nas festinhas do colégio. Minhas crianças cresceram, transformaram-se em homens/mulheres com outros interesses.


            Véspera de ser avó me peguei pensando que o dia das crianças, em breve, voltará a ter encanto. Sem passar pela gestação, parto, amamentação e/ou noites insones voltarei a ter em meus braços um bebê. Claro que tenho treinado com meus sobrinhos-netos, mas tenho impressão que o sentimento de avó ainda não desabrochou complemente...

          Na verdade ainda não me imaginei “avó” no sentido mais amplo da palavra, não consigo me visualizar como aquela que não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, "não ralha nunca". Deixa lambuzar de pirulito. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso dos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido, antes uma maravilhosa subversão da disciplina. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café, mexer na louça, fazer trem com as cadeiras na sala, destruir revistas, derramar água no gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser - e até fingir que está discando o telefone. Riscar a parede com lápis dizendo que foi sem querer - e ser acreditado!

          Essa avó ainda não desabrochou, mas já ando preocupada com os desenhos animados que ele vai assistir, os livros que vai ler, as brincadeiras. Quando penso sobre isso fico assustada, pois o mundo hoje está mais violento, a programação infantil está mais erotizada e violenta e os pais, mais permissivos, esquecem que existe controle remoto e podem evitar a exposição de seus filhos a estes espetáculos de extremo mau gosto. Mas, esta é mãe que teme que o filho não esteja preparado para ser pai, pretensão que precisa ser tolhida para disvirtuar meu papel de avó.

          Queria outro mundo para meu neto, mas só tenho esse e preciso aliar-me aos seus pais para oferecer conforto, segurança e uma sólida educação a esta criança que em breve deixará o conforto do útero para enfrentar os perigos do mundo...


          Que o Deus da vida proteja todos nós...
 

*Trecho da crônica “A Arte de ser Avó” de Raquel de Queiroz”.

Foto: Eu e Ricardo Neto (Filho de minha Sobrinha Vitória).


Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 12/10/2011
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