DUNAS...
A areia percorria-me o rosto
Como estrada escolhida
Para passeio deambulante
Como tempestade no deserto
E eu…
Sem porto de abrigo
Deixava-me fustigar
Pela fúria que me amarelava a face
Que me deixava os olhos
Como ponto de referência
Como testemunhas de um desiderato
A fuga…
Sentado nas dunas
Coberto pela sua razão de ser
Petrificava
Ao fundo o mar rosnava
Soltava fluidos
Denunciando a impotência da maré
Chorava ameaçando os ventos
Impotente
De braços estendidos
Como ser à beira de afogamento
E eu… nas dunas
Já não consigo chamar-lhe companheiro
Porque os olhos não falam
Já pouco vêem
Esfrio
Encerro as pálpebras
Como cortinas de sala comum
Os ventos amainam
As areias descansam
A manhã oferece-me um cortejo
De aves que me cantam
Qual tribo em dia de anunciação
Saio em direcção ao mar
Que não me reconhece
As águas revoltas
Trouxeram-me outro mar
Ali ao fundo
À vista das dunas.