DUNAS...

A areia percorria-me o rosto

Como estrada escolhida

Para passeio deambulante

Como tempestade no deserto

E eu…

Sem porto de abrigo

Deixava-me fustigar

Pela fúria que me amarelava a face

Que me deixava os olhos

Como ponto de referência

Como testemunhas de um desiderato

A fuga…

Sentado nas dunas

Coberto pela sua razão de ser

Petrificava

Ao fundo o mar rosnava

Soltava fluidos

Denunciando a impotência da maré

Chorava ameaçando os ventos

Impotente

De braços estendidos

Como ser à beira de afogamento

E eu… nas dunas

Já não consigo chamar-lhe companheiro

Porque os olhos não falam

Já pouco vêem

Esfrio

Encerro as pálpebras

Como cortinas de sala comum

Os ventos amainam

As areias descansam

A manhã oferece-me um cortejo

De aves que me cantam

Qual tribo em dia de anunciação

Saio em direcção ao mar

Que não me reconhece

As águas revoltas

Trouxeram-me outro mar

Ali ao fundo

À vista das dunas.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 19/10/2011
Código do texto: T3285259