A MODERNIDADE DOS TEMPOS ANTIGOS

Muito interessante este nosso conceito de antiguidade, de passagem das eras. Exatamente agora estamos vivendo um tempo muito antigo, que em breves dias terá sido muito superado e ´será considerado muito arcaico. Entretanto, nos orgulhamos deste tempo ser o mais avançado até aqui e, insanamente, menosprezamos nossos antepassados por eles terem sido, aos nossos olhos, tão incompreenssivos, tão faltos de conhecimento e tão cafonas. Não nos damos conta que, na verdade, eles foram muito modernos, altamente avançados e ao longo de suas vidas a tecnologia e modernidade somente avançou juntamente com sua inteligência muito mais aguçada do que a nossa, que temos tudo pronto e tomamos o menor impecílho como grande demais. Diferente de nós, porém, a inteligência e avanços dos nossos antepassados não os impediu de ter consciência de que viriam tempos mais modernos, o tempo atual, que é sempre o mais avançado, e que pessoas das eras antigas é que trabalharam para produzir os momentos avançados de cada tempo atual. Especialmente o memento avançado que vivemos na atualidade foi produzido por nossos antepassados, os mais recentes, os mais antigos e os muito antigo, e muitos de nós os temos considerado pessoas ultrapassadas. Todavia, nós e que somos, pois as criações deles não dependeram das nossas, ao passo que as nossas em tudo dependem das deles. E esses gênios da antiguidade propiciaram-nos as possibilidades para os avanços mirabolantes que produzimos certos de que nos orgulharíamos deles, mas alguns, quando mais velhos, viram e vêm como as pessoas do tempo são orgulhosas e incapazes de reconhecer sua dependência dos feitos dos antepassados, tratando-os sem consideração, como descartáveis, vermes, poeira e cinzas, como se não fôssemos eles mesmos, produtos deles. Assim, vivemos o tempo da geração mais ingrata, sem sentimento e insolente de todos os tempos.

Em breves dias o tempo atual terá ficado para trás e muitos outros tempos terão passado sobre ele, e essas menininhas arrogantes com suas barrigas e bundas apertadas nas calças de laicra nada mais serão de coroas cafonas, decaídas e bordadas de celulite, querendo parecer gatinhas, como tantas se vê nos dias atuais. Em rápidos anos muita tecnologia mais aprimorada terá sobrepujado os i-pods e mega bits de agora, os celulares incríveis e seus toques geniais, e os jovens presunçosos dos dias de hoje nada mais serão do que uma geração de quarentões frustrados tentando realizar-se nos filhos mais insolentes e incapazes de todos os tempos. Então saberão, tardiamente, que nenhuma das idades e eras que vivemos são nossas, tampouco são nossos méritos; terão consciência que nenhum dos momentos e vantagens que vivemos são nossos; que cada um desses momentos e vantagens recebemos por empréstimo e se não sabemos aproveitar a cada um, logo eles nos são tirados nos tornamos velhos mal-humorados ("rabujentos") por causa do sentimento de quem perdeu o trem da história, sentindo que a vida foi um sopro que não se teve o reflexo de absorver.

Quanto a mim, há menos de um mês de completar quarenta e seis anos, me sinto altamente moderno e temporalmente muito atual, podendo ser moderno em qualquer tempo, valorizando o tempo de todas as pessoas, especialmente o tempo dos mais velhos, pois todas as suas passagens foram arrojadas e atuais e em todas elas bate o coração de jovens atuais, lembranças que serão eternamente jovens.

Percebo os avançados anos oitenta e noventa logo ali atrás, quando fui adolescente e jovem, e esses anos são nada menos avançados e, tampouco, mais cafonas que os dias de agora, pois são compostos de pessoas mais dispostas, menos reclamantes, mais bem resolvidas e sem tantos impedimentos como os jovens de agora, quando a menor carência desmobiliza toda a vontade e capacidade dos garotos e garotas. Ao contrário dos jovens de hoje, os das décadas passadas podiam resolver tudo, empreender o que quisessem e ir onde desejassem, não sendo impedidos por nenhuma falta ou improvisão, pois em nada dependiam de seus pais e das provisões de outras pessoas. Se facilitarmos, é bem capaz de a geração complicada de agora ser muito mais ultrapassada e cafona que os jovens e adolescentes dos anos oitenta e noventa e décadas anteriores, pois esta geração é cheia de mimo e dependência de seus pais e psicólogos, requerendo toda provisão dos outros ao mesmo tempo em que são insolentes como se fossem auto-suficientes.

Se observarmos bem, nos anos oitenta o computador já não era coisa do futuro, embora não sendo tão aprimorado e não podendo armazenar tanta informação e abrir tantas possibilidades, propiciando tanta facilidade de relacionamento como hoje. Em compensação, a desenvoltura e capacidade de armazenamento e recordação das mentes das pessoas era infinitamente maior, sendo também admirável a capacidade que tinham para aproximarem-se umas das outras, desenvolvendo relacionamento com as pessoas a sua volta, sem produzir nem encontrar tantos motivos para richas, rancor, ressentimento, discórdia e insatisfação.

Os carros moderníssimos daqueles anos já foram em muito superados pelos carros altamente eletrônicos e automatizados de agora, mas a tecnologia de agora em nada os faz menos capazes e, tampouco menos aprimorados, pois eles foram de última geração em seu tempo, quando a tecnologia de agora não existia e ela jamais teria vindo a existir se não tivesse sido propiciada pela tecnologia e avanço daquele tempo. Aquele foi um tempo altamente moderno. Quem o viveu sabe. As décadas do século XX é que foram os tempos das novidades, ao passo que hoje é o tempo das repetições e aprimoramento daquelas novidades. E as pessoas daqueles tempos foram altamente avançadas, pois elas viviam a imaginar a tecnologia futura e, conforme iam imaginando, as novidades iam aparecendo. Em nada essas pessoas eram mais cafonas que as pessoas de agora, que andam usando pantalonas e costeletas como os malucos dos anos setenta, calça centropê e barriga amostra como as cocotas e ripongas dos anos sessenta, sapatos plataforma a silhueta esquálida como os inseguros daqueles anos, mas sem a essência humana daqueles jovens românticos, sem a compaixão, o romantismo, o respeito e reverência por seus pais, os mais velhos e os antepassados; sem amor por suas origens, sem a consciência de que somos parte de um todo e que devemos satisfação, consideração e cooperação para com esse todo. Sem falar, que nem mesmo são capazes de trocar o canal da TV sem o controle remoto, quanto menos fazer andar a “caranga” enguiçada.

Sinto-me altamente orgulhoso e moderno por ter vivido em tempos antigos e modernos ao mesmo tempo, pois todos os tempos são modernos e antigos simultaneamente. Conheci os tempos de antes do vídeo cassete beta max e os tempos de depois da internet e a realidade virtual, quando o computador "faz desenhos" e passa filmes. Muitas pessoas viveram antes de Cristo e muitas viveram depois dEle, o que é o nosso caso. Privilegiados, porém, são os que viveram contemporaneamente a Ele, que não ouviram falar nem tiveram que ler sobre Ele, mas O viram e ouviram, como é nosso caso quanto a tecnologia atual. Certamente que Henri Ford se orgulhava de ter vivido no tempo do auge dos motores a vapor e no período durante e após a invenção do motor a explosão. Ele podia falar de como era a vida nos dois tempos. Assim também vivi em casa fechada com tramela, iluminada com lampião e servida de água de poço, ao mesmo tempo em que conheci portas que se abrem com cartão, tecnologia laser e água servida por máquinas caça-níqueis.

Quanto ao tempo que se passou depois da segunda metade do século XIX, quando a tecnologia acelerou vertiginosamente, chegando ao ritmo frenético de agora, olho para trás e sou capaz de ver antigos os tempos moderníssimos do final dos anos sessenta e início dos setenta, quando os engarrafamentos se compunham de Dkws, Kombi, Opalas, Gordinis, Aero Willis, Cinca, Jeep, Rural, Veraneio, os potentes motociclos e as versáteis Lambretas. Sinto-me completo e amplo por ter conhecido a febre do gravador de fita cassete, o brinquedinho tecnológico genial dos anos setenta, o vídeo cassete de duas cabeças, a calculadora eletrônica a substituir as mecânicas de mão e as gigantescas a manivela dos supermercados. Acho magnífico ter visto o surgimento da caneta com relógio digital, o Monza Retch, do carro com injeção eletrônica, o CD, o CD vídeo, que quase se tornou popular, o DVD, do controle remoto sem fio, do telefone celular e do micro chip. Para mim todos esses acontecimentos foram a aurora da modernidade, embora nos anos setenta, de quando são minhas primeiras lembranças do mundo externo, eu tivesse apenas quatro e cinco anos e os tempos modernos tenham começado em 1500 de nossa era. Entretanto, sempre que surge uma nova tecnologia, ela é o nascimento de um novo tempo moderno. Modernas, porém, são as pessoas capazes de avançar para o futuro, vivendo a atualidade sem menosprezar a inteligência e modernidade dos ante-passados, pois eles são nossa história e foram eles unicamente que deixaram o fio da meada que possibilitou sermos o que hoje somos e desenvolvermos a modernidade da qual desfrutamos e nos orgulhamos na atualidade. E isto é sentimento e palavra de historiador, pois nenhuma pessoa e tempo existem independentes da sociedade ao seu redor e dos tempos passados, pois sozinhos, seríamos apenas pessoas sem passado, sem presente, sem futuro e sem esperança.

Wilson do Amaral