A pena, o homem e a fera

A pena, o homem e a fera

(réquiem para Saddan e Bush)

Se a mão da vingança se mantiver firme, a justiça pode prevalecer sobre o mal?

Não foi por abjuração, mas não fui à Missa do Galo. A igreja estava fechada e nós fiéis tivemos que respeitar o édito de segurança.

O fermento imposto pela inquisição no Século XV inchou a igreja e seus poderosos chefes dominaram a maior parte do mundo. Hoje, estufados refugiam-se todos em suas torres para comemorar, só entre eles, o nascimento de Jesus. Não mais levantam a voz ou emitem decretos para defender os filhos de Deus. Ao contrário, fecham as portas e se calam diante da diáspora que, hoje, aflige muitos povos. Não inquirem mais nada. Consentem.

Mesmo assim eu rezei nesta mudança de época cristã. Não pedi a Deus “amor e paz” para a humanidade, já que aprendi que tais nobres valores são inerentes ao ser humano e, que nenhuma súplica poderá mudar uma alma adversa sem que ela em si, por sua índole, assim o queira.

Agradeci pelos meus e roguei por sua proteção ao meu Deus e à minha santa padroeira. Pedi para que prevaleçam em nossas vidas a saúde, a determinação, a sabedoria, a nobreza e, principalmente, a justiça divina que deve triunfar sobre o julgamento dos homens mais afeitos ao arbítrio.

Desejei que a penitência não suplante a razão, tampouco a ganância espezinhe os povos; que o direito e a dignidade de um homem não possam ser aviltados; que a falácia, o sofisma não sejam utilizados nem mesmo contra quem unilateralmente vislumbremos como carrasco.

Roguei a Deus pela alma de um iraquiano, mesmo que mais um tirano, quando vi seu corpo esganado ser, sem censura, exibido em toda a mídia, de língua exposta como um troféu.

Não julgo a acusação; questiono a pena. Interpelo o homem criador e patrocinador de tribunais mamulengos, que perante o olhar do resto do mundo desterra seus próprios jovens; condena pais e avós a nada ter o que comemorar na virada de um novo ano, a não ser seu troféu. Este sr Bush que não aplica, alhures, a democracia que alardeia em seu próprio palco, por certo o inferno lhe reserva no mesmo assento um lugar junto ao sr. Saddan, logo após sua cena lhe seja roubada num diverso ato.

Não foi por comiseração que pedi a Deus piedade pela alma de um enforcado, mas por convicção de espírito cristão. Por não concordar com a lei que dita que “quem com o ferro fere, com o ferro será ferido”; tampouco que o dente-por-dente, olho-por-olho possa melhorar nosso único planeta. Rezei para que a ordem estabelecida não seja assim mais desafiada; que o julgamento das violências não suplante a violência em si e que as justiças não se asfixiem.

®Soaroir Maria de Campos

1º de Janeiro de 2007

Gentilmente revisado por: Obed de Faria Jr.

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