LÁPIDE DO POETA EM MIM

QUANDO A BRISA E O FRESCOR DAS MANHÃS

NÃO MAIS VERTEREM SOBRE MIM O SOPRO DA VIDA MATINAL...

QUANDO O TERNO CALOR DAS TARDES ENSOLARADAS

NÃO MAIS AQUECER MINHA PELE... MINHA CARNE,

GUARDIÃS DOS MEUS OSSOS E ENTRANHAS...

QUANDO A PENUMBRA CÁLIDA DAS NOITES ADORMECIDAS

NÃO MAIS ABRIGAR OS MEUS POUCOS SONOS E MUITOS SONHOS...

UM GRITO MUDO ECOARÁ NO HORIZONTE,

ANUNCIANDO A MINHA PARTIDA...

QUE O VENTO SOPRANDO MANSAMENTE

NUMA SINFONIA DE DESPEDIDA

TOQUE A TRISTE E REFLEXIVA MELODIA DO SILÊNCIO...

ENQUANTO PRANTEIO A MIM MESMO.

SEM VESTES DE OURO OU PRATA,

NAVEGAREI PELOS INFINDÁVEIS OCEANOS DA ETERNIDADE.

NUM BREVE LAMPEJO DE SAUDADE

MINHA ALMA CONTEMPLARÁ A VIDA... ABANDONANDO-A.

O GRANDE AMOR VIVIDO

(DO QUAL JAMAIS ME DESPREENDEREI),

MEU CHÃO, MEU AR,

MINHAS NOITES MAIS INTENSAMENTE VIVIDAS QUE OS MEUS DIAS, MEUS FRUTÍFEROS ÓCIOS,

MEUS ACASOS, MEUS ERROS E ACERTOS,

MINHA BONDADE E MALDADE... TUDO ESTARÁ COMIGO...

E EU ESTAREI SÓ...

SÓ COMO SEMPRE DESEJEI ESTAR,

MESMO QUANDO DESEJEI COMPANHIA.

... SOLEDADE...

MINHA ALMA IRREQUIETA, NÃO ME DEIXA IR E NÃO ACEITA FICAR... SOFRÍVEL DUALIDADE.

REZO PARA CONSEGUIR CORTAR O LAÇO UMBILICAL QUE INSISTE EM ME PRENDER A DOIS MUNDOS. MINHA HUMILDADE NÃO ME PERMITE SER UM CIDADÃO COSMOPOLITA, PORÉM, UMA TÊNUE PONTA DE ORGULHO E PREPOTÊNCIA, TENTA ME ELEVAR AOS ALTARES.

RESISTÊNCIAS, GANHOS E PERDAS EM MAIS UMA BATALHA PESSOAL. LUTAR?... RESISTIR?... SUCUMBIR?... DESISTIR?...

... DÚVIDAS CRUÉIS! ...

... VIDA ATRIBULADA, MORTE DESMEDIDA...

MOMENTOS DE FRAÇÕES VÍVIDOS EREGEM UM MONUMENTO

PARA DIGNIFICAR A MINHA EXISTÊNCIA.

POR FIM, O CHORO CONVULSIVO LAVA-ME A ALMA...

... É HORA DE PARTIR.

NÃO DIREI ADEUS... SOMENTE UM ATÉ BREVE...

... SAUDADES... SAUDADES... SAUDADES...