Segundo Lar

Despertador toca, me obrigo a levantar.. Mais um dia de aula, escolho uma roupa, tomo o café, escovo os dentes, e meu caminho é em direção a escola, mais uma vez. Tem um lado bom nisso tudo, hoje é quinta-feira, restinho de semana, as aulas estão quase acabando e tenho milhares de planos para fazer no sábado. Pego meus livros, minha mochila e sigo em frente. Chego até meu destino! Entro na sala, e minha motivação maior é ver meus amigos conversando, rindo e me dizendo “oi” toda a vez que sento perto deles. Mas aí, o sinal toca, e toca mais uma vez, até que o professor entre e veja que estamos todos sentados, trocando olhares e sorrisos enquanto ele tenta explicar sua matéria.

Os minutos percorrem; mas a aula é interrompida quando um dos funcionários chama o professor para comparecer a diretoria. Quando ele sai, todos nós nos olhamos, e o volume aumenta. Começamos a conversar, a rir, a incomodar os colegas das classes que estão perto e as que estão longe, e quando ele voltar, retornaremos a posição inicial. O professor abre a porta, e logo atrás dele, entra um homem alto, que aparenta ser um palestrante, pois é normal termos palestras durante as aulas. Olho todo o ambiente, o quadro, meus colegas e o professor que está com um ar interessado sobre o assunto que irá ser abordado. Mas algo está errado. O desconhecido rapidamente retira duas armas que estavam presas em sua cintura, e nos mira como se fossemos pássaros fugitivos. A sequencia de tiros é infinita, eu fico atônita, pasma, desesperada, escutando o forte barulho que chega cada vez mais perto. Eu fecho os olhos, rezando para que alguma das balas não acerte em mim, e os abro novamente. A sala que antes estava calma, passou a ser um local de desespero, meus colegas correndo, desviando dos tiros, meu professor desesperado, pedindo para que não o mate, não mate seus alunos. O olhar do desconhecido era frio, tão gélido como uma pedra, estava fora de si.

Toda criança assiste uma aula esperando aprender algo a mais quando senta em sua classe, algo satisfatório para seguir o seu sonho, pois cada um tem uma meta, um objetivo, mesmo que venham para a escola a pé, de carro, calçando tênis, chinelo, com uma roupa na moda, ou uma que esteja velha, um pouco suja, rasgada. Vamos à escola com pensamentos diferentes, uns chegam só para contar o que fizeram no fim de semana, outros para encontrar a “galera”, ver aquela pessoa que gosta, ir até o banheiro para dar uma volta, aprender um calculo novo, um idioma diferente, revisar o conteúdo para a prova do dia seguinte...Temos muitos pensamentos iguais. “Fórmulas químicas, cálculos matemáticos, verbos em português, reprodução em biologia..” As vezes me pergunto por que e para que vou precisar de todos esses conteúdos, tem dias que quero uma folga dos professores, dos meus colegas, da minha escola, e até de mim.

Mas eu quero voltar no dia seguinte, vendo aqueles mesmos professores chatos, aqueles que fazem de tudo para descontrair a aula, meus colegas, aquelas mesmas matérias difíceis, sem ter que olhar e encontrar metade da escola vazia, o sangue, olhares tristes, faixas e cicatrizes pelo corpo, com o sentimento de perda. Por mais que eu reclame da monotonia de ter que acordar cedo, ter aulas de manhã e quase todas as tardes, estudar para milhares de provas nas semanas seguintes; quero encontrar todos alegres, contando o que fizeram no dia anterior, brincando uns com os outros e tudo que o se vê nas escolas por aí. Não quero subir as escadas, e encontrar marcas de tiro, pessoas chorando... Porque afinal, a escola é o que chamamos de “segundo lar”, e como lar, todos ali presentes, são como uma família.

Priscila Czysz
Enviado por Priscila Czysz em 20/11/2011
Reeditado em 29/12/2012
Código do texto: T3347059
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