Antes de julgamentos, leia-me.

Me mantenho num estado febril. Febril de febre fria. Um consolo ante o desespero inconsolável. Ávido.

Me esbaldo em esquinas e pessoas. Sempre impessoal. Há de se dizer que o mundo é assim. É a verdade.

Isso explica os acordes trêmulos de minhas mãos. Sem tons. Somente um desespero pelo que chora doce. Uma mistura imprópria de flagelos que mal combinam entre si! Não concordam com nada, nada em mim.

Aí que surge o repúdio pela comida que eu mesma cozinhei. Grãos, fatias, pedaços, sulcos. Sempre me contradizem. Me odeio de pouco em pouco, em larga escala.

E à noite, enquanto eu me amo, penso na luz de vela que apaga. Suja. Assim, como alguém que se odeia. Suja. sim-ples-men-te su-ja. Ai, que me arranho com a crosta de poeira que se acumula em mim!

Então, lavo-me de meus sonhos por repudiar minha pele. Peço por clemência à vela há muito morta. Continuo. Parada.

Às neblinas de nicotina, agradeço. Ainda tento transformar meu corpo inteiro em um pouco delas. Numa notória metamorfose homem, droga. Onde a droga vira evolução iminente a mim. Nobres sentimentos de incapacidade. Arght! Falsos. Sujos. Eu.

Com a garganta seca de falar obscenidades límpidas e iluminadas. O gosto do antagônismo fajuto que só as palavras podem ceder. A poeticidade sempre parece-me mais bela escrita. Não tenho que molhar a boca. Seca. Suja.

O gole de leite fresco/podre desce a garganta com ímpeto, impiedoso, imaturo, imaculado. E à graça de ter o que beber, dou uma larga risada. Basta.

Talita Tonso
Enviado por Talita Tonso em 20/11/2011
Reeditado em 22/11/2011
Código do texto: T3347300
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.