[O Estranho Anzol]

Desde cedo, aos meus cinco anos,

eu pressenti a sem-razão de tudo.

Para encerrar a minha questão,

tive toda a soltura da infância,

tive vários exemplos de partidas,

vi lágrimas logo serem enxugadas,

vi rosas morrerem nas tardes quentes,

vi cansaços matarem gentes e animais,

senti o fim da melodia na praça vazia...

E por fim, numa síntese de corte e de dor,

vi perecer o amor da vida inteira...

Ainda assim, eu perseverei no caminho,

mordi a isca inteira... e continuei vivo!

Estranho anzol esse, muito estranho!

Agora, sem outra razão que a curiosidade

de ver como vai ser, e até onde vai dar,

sendo livre para escapar do anzol,

eu, de olhos bem abertos,

vou continuar a curtir as mortes,

as poucas mortes que ainda me restam...

[Desterro, 26 de dezembro de 2011]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 26/12/2011
Reeditado em 26/12/2011
Código do texto: T3406678
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