Ruína musical

Andei vendo nas redes sociais nos últimos dias uma noticia que achei a mais decepcionante dos últimos tempos: A música mais recente do tal Michel Teló além de fazer sucesso no Brasil está fazendo também um grande sucesso na Europa.

Já falei muitas vezes de legado cultural, coisa que poucos são capazes de parar para pensar, mas é preocupante a piora do termo. Em minha opinião música também é um grande e importante legado cultural.

Hoje em dia ainda temos o privilégio de escutar lindas e emocionantes canções, na sua grande maioria ofertada por artistas já veteranos nessa área.

Mas o que se pode esperar da nova geração da área musical se qualquer cantada de pedreiro vira sucesso hoje em dia?

Pensando bem, isso é até um insulto aos pedreiros, pois a grande maioria deles consegue ser bem mais criativo.

Eu particularmente me sinto lisonjeada de ainda escutar algumas lindas vozes em suas letras inspiradoras, com suas melodias embalantes que são um verdadeiro aconchego não só aos ouvidos, mas também para a alma, o espirito e o coração.

Ainda posso ter momentos emocionantes escutando algumas coisas como:

"você foi a mentira sincera, brincadeira mais séria que me aconteceu..." de Roberto Carlos

"eu vi o sangue que corria da montanha, quando Hitler chamou toda Alemanha...” de Raul Seixas

"mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa..." de Elis Regina

"vem, vamos embora que esperar não é saber quem sabe faz a hora não espera acontecer..." de Geraldo Vandré

E muitas outras canções que são verdadeiras poesias e que passam mensagens marcantes para nossa existência.

Enquanto que os jovens se iludem e agridem seus ouvidos ouvindo coisas como:

"Delícia, delícia assim você me mata ai se eu te pego, ai ai se eu te pego...",

"o jeito é dar uma fugidinha com você, o jeito é dar uma fugida com você...”

Grandes mensagens essas duas músicas acima passam hein! E o pior de tudo é ter consciência que muita gente se empolga ouvindo tais agressões verbais e auditivas e que isso vira uma verdadeira febre mundial.

Sem falar que não acrescentam nada ao legado cultural que as gerações futuras terão. Fico imaginando a cara de alguns daqui a uns 30/40 anos ao ouvir esses dialetos aborígenes e se culpando por não conseguir expressar alguma emoção diante de coisas tão superficiais.

Acham que qualquer besteira pode ser chamada de música e se recusam a enxergar que para compor precisa de inteligência, fazendo essa arte cair em desgraça.

Que os brasileiros achem uma delicia dar uma fugidinha é até de se esperar, mas o povo europeu realmente é de surpreender, principalmente quando por lá se tem artistas como Andrea Bocelli, Laura Pausini, Alejandro Sanz, Julio Iglesias e muitos outros.

Mas o mundo anda confundindo as “obras”, achando que pode transformar expressões superficiais em mensagens sólidas, sem perceber que está faltando argamassa no meio musical, por isso as estruturas estão cada vez mais abaladas com crateras enormes e sem nenhuma preocupação com o “acabamento”, instigando nossa música a virar pó.

Eu realmente preferia ter “nascido a dez mil anos atrás, nas curvas das estradas de Santos, vivendo os sonhos mais lindos que sonhei, desde os tempos distantes de criança” do que ter que assistir de camarote a ruína das edificações musicais que levaram anos para serem construídas.

Deby Lua
Enviado por Deby Lua em 29/12/2011
Código do texto: T3412220
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