TU QUE...

Tu que me olhavas com enlevo

Enquanto dormia…

Que colhias amoras silvestres

Nos campos que guardavam a praia

Enquanto eu desnudava árvores

Para com os ramos limpar o pó da vereda

Onde os teus pés pisavam solo luzidio

Tu que me falavas com a voz do olhar

Enquanto pensava…

Que fazias escorrer entre as mãos água salgada

De um mar que açoitava as rochas

E as deixava como espelhos

Batidas por um sol resplandecente

Enquanto eu, de mão em jeito de pala

Media a dimensão do horizonte

Tu que assediavas o meu silêncio

Enquanto me recolhia…

Que me tocavas no ombro

Sacudindo-me da penumbra

Chamavas-me por um nome

Que a mente não descodificava

Amnésia ou simples forma de estar

Tu que não desistias e me batias no peito

Enquanto despertava…

E de ti soava a melodia

E de mim a voz que a completava

A canção que voava em tom suave

No cesto as amoras que colheras

Aos pés a água fria que acolheras

Lábios quentes de fogueira ardente

Num beijo…

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 29/12/2011
Código do texto: T3413278