TU QUE...
Tu que me olhavas com enlevo
Enquanto dormia…
Que colhias amoras silvestres
Nos campos que guardavam a praia
Enquanto eu desnudava árvores
Para com os ramos limpar o pó da vereda
Onde os teus pés pisavam solo luzidio
Tu que me falavas com a voz do olhar
Enquanto pensava…
Que fazias escorrer entre as mãos água salgada
De um mar que açoitava as rochas
E as deixava como espelhos
Batidas por um sol resplandecente
Enquanto eu, de mão em jeito de pala
Media a dimensão do horizonte
Tu que assediavas o meu silêncio
Enquanto me recolhia…
Que me tocavas no ombro
Sacudindo-me da penumbra
Chamavas-me por um nome
Que a mente não descodificava
Amnésia ou simples forma de estar
Tu que não desistias e me batias no peito
Enquanto despertava…
E de ti soava a melodia
E de mim a voz que a completava
A canção que voava em tom suave
No cesto as amoras que colheras
Aos pés a água fria que acolheras
Lábios quentes de fogueira ardente
Num beijo…