Mãos
Sentou-se, cansado. A pedra era confortável, mesmo sendo uma pedra. Relaxou o torso, pendendo a cabeça para trás. As memórias dançavam sob suas pálpebras fechadas. O céu aberto que o cercava se tornava lábios, corpos, mãos.
Olhou para as suas, sorrindo. Não tinha nada para segurar que não todos os beijos esquecidos que caíam de sua face. É estranho, a falta só é realmente sentida quando o corpo falha em acompanhar a mente em suas viagens sem aviso. Fica parado, vendo outra vida (sendo) vivida longe do alcance do olhar.
Por mais paradoxal que fosse, ele começava a entender. Às vezes, o perfume não se contenta com a pele, prendendo-se eternamente às lembranças. Quando não mais na pele se inala outro, vê que não é mais temida a morte, e sim a rapidez com que ela vem.
Ergueu as mãos, tapando o sol. “Viva," pensou, “pois estas mãos ainda seguram as tuas.”