GARDÉNIAS...

Ao longo do rio vejo um campo de gardénias

De corpo branco e postura exótica

Que me oferecem a sensação de um olhar

Lânguido

Ausente

Em meditação constante

O olhar que já vi algures

Nos tempos perdidos

Em que não percorria o rio

Na procura das vozes do silêncio

Gardénias

Que fazem sombra a outras gardénias

Ciumentas da diversidade do meu olhar

Um olhar que já foi limpo

Sem rugas

No tempo em que as minhas mãos

Estendidas como madeira fresca

Eram a bandeira de um prazer de vida

Gardénias

Que se colam a mim através dos meus passos

Que viajam comigo

Que me enfeitam a raiz do pensamento

Que dormem comigo num quarto vazio

Que morrem de tristeza

Porque já não podem fazer sombra na margem do rio

Porque o seu coração não tem a força que nos corre nas veias

Porque cada ser é um ser único.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 17/02/2012
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