Preconceito


O preconceito ainda é uma das máculas humanas. Ele machuca e segrega seres humanos, sempre baseado em diferenças de opiniões e de valores. Não aceito qualquer assertiva que defenda a existência de alguma ética universal, ou mesmo que defina algum valor como universal. Nada possui valor por si só. Somos nós quem atribuímos valor as coisas e assim cada um pode atribuir valores diferentes para mesmas atitudes, mesmos comportamentos ou mesmos objetos. Entendo que não é porque algo possua valor positivo que gostamos deste algo, entendo ao contrário que é porque nos atribuímos valores positivos a algo que acabamos gostando deste algo. Valorar é uma ação de relação de importância ou de preferência ou mesmo de adequação aos nossos princípios de vida ou das opções que façamos. O mesmo se dá, conforme creio, a respeito da ética.
Os atos ou preferências, ou mesmo opções não são éticos por si só, e sim conforme o reflexo destes sobre a dignidade individual e principalmente sobre a dignidade e a felicidade social.
O mesmo ato pode ser ético em uma sociedade e antiético em outras sociedades, o mesmo vale para diferentes épocas temporais ou diferentes áreas geográficas.
 
Não nos é justo valorar atos como antiéticos se não conhecemos todo escopo deste ato, ou desta opção, e principalmente se não nos esforçamos para ver o alcance final e as consequências ou inconsequências deste ato ou escolha.
Atos de cunho pessoal, que não afetem a terceiros, ou mesmo que afetando a terceiros sejam de total conhecimento, aceite e grata participação, dentro de um respeito mutuo e coletivo, e em respeito as capacidades individuais de escolha e que estas sejam efetuadas sobre o total controle das faculdades cognitivas e emocionais, não podem ser consideradas antiéticas ou imorais, e assim não podem jamais servir de defesa para nossos preconceitos.
 
Uma atitude preconceituosa fere a coesão de nossa humanidade por valorar atitudes de escolha, que em nada ferem a dignidade humana ou social, como sendo atitudes indignas, e por acreditar que opções individuais sem impacto social negativo sejam erradas para a dignificação do humano e do social.
 
O preconceito corrói as estruturas humanas, ou nos invadindo silenciosa e soturnamente, por pequenas fissuras em nossa humanidade, ou por se fazer presente pela simples presunção de prepotência de que somos o reflexo da pureza humana, ou de que somos representantes vivos da ética humana ou somos emissários da justeza humana, e que opções diferentes não sejam dignas sequer de serem analisadas a luz de uma intelectualidade séria, de nossa racionalidade ou de nossa capacidade de análise crítica que nos deveriam ser coisas comuns.
 
Um dos problemas do preconceito é que nós nunca nos achamos preconceituosos, nos achamos sim baluartes defensores da dignidade humana.

 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 29/02/2012
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