Como se de um bonsai se tratasse

Você me retirou do meu solitário habitat e juro que achei que pudesse ser feliz ao seu lado, mas rapidamente noto que o que lhe provoquei provavelmente não tenha sido nunca paixão e sim vontade de me conceber novamente. E as suas torturas logo começam: corta-se um galho aqui, estica-se um outro ali e vou permanecendo à sua mercê, me adaptando aos seus gostos, forçando-me a incluir com quase perfeição em seus sonhos e em seu modelo de vida, acreditando no seu sexto sentido supostamente manifestado e no arrebatamento da sua arte.

Assim você muda a minha natureza, desfaz o meu corpo, ataca o meu espírito, me quer pequena, altera meu desenvolvimento, retira as minhas raízes. Justificando querer me tornar singela, especial e bela, vai me reconstruindo, ainda que me oferte atenção, água, sol e cuidado na medida que julga correta. Faltou-me só aquele quê de entendimento, de diálogo, de amor. Sobrevivo. Faço-me seu troféu, sua soberba, seu orgulho.

Espanto-me com a sua audácia de querer, afora o meu amor, a meu imutável agradecimento. Agradecimento por quê? Por você jamais ter me interrogado se eu preferiria seguir a minha própria natureza e passar a ter os meus próprios moldes? Sim, pois talvez assim eu me sentisse mais independente, tivesse a possibilidade de ter meus próprios planos, minha própria vida, seguir meus próprios rumos, tecer meus próprios galhos e poderia ter sido bem mais feliz do que penso que fui. Ah! Se tivesse tempo de voltar atrás... E quem foi que falou que não há?

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 18/03/2012
Código do texto: T3560930
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