A GOTA DE ÁGUA...

Saio da escuridão de descreres contínuos

Retidos em rios de esgotos perpetuados

Como se aquele fosse o dia

Como se aquele fosse o momento

Do meu renascimento

Dos primeiros passos sobre terra firme

Das primeiras águas que enfraquecem a nuvem

Que ameaçam com uma pequena gota

Como se fosse batedora de caminhos ínvios

Soltando palavras incitando à nudez

Como se o corpo desejasse ser limpo

Dos detritos que o barraram por tempos incontáveis

A gota de água

Que me cai sobre a face

Que se confunde com a lágrima redentora

Que trava o percurso descendente

Na ânsia de que outras gotas se lhe juntem

Se confundam num emaranhado de emoções

Nu…

Completamente nu…

Deixo escorrer por mim o rio que me devasta

Que me refresca a pele num cenário de estio

Que se esgota no banquete do meu delírio

Que evapora rumo à corrente que o conduz

Que deixa comigo o alvo reprodutor

A gota de água.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 21/03/2012
Código do texto: T3567979