O SONHO

O sonho tem sido minha água, meu alimento, minha danação; minha danação, meu alimento, minha água. Por causa dele, sonho, sempre tenho sido um ser quase completamente inapto para cumprir, a rigor, as exigências do chamado mundo “real” que solicita minha presença, mais do que nunca; estou tomando antidepressivos para, anestesiando o possível do sonho, possa eu vir a cumprir, com o vigor que urge, as tais exigências desse mundo real, do único mundo real que me cabe, do único mundo real a que faço jus.

Para mim caberiam, quase à perfeição, os versos de Álvaro de Campos, no poema TABACARIA:

(.................................................................................)

“Vivi, estudei, amei e até cri,

E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.

Olho a cada um os andrajos e as chagas e mentira,

E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses

(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);"

(......................................................................................)

No início da tarde de 29 de março de 2012.