O eixo de Bia

- Cara, você precisa entender: Eu sou o eixo.

- O quê?

- Eu sou o eixo.

- Que porra de eixo?

- O eixo de Bia!

- Quem é Bia?

- Você não entende... Bia é a composição do meu não-eu onírico.

- Cara, você está bem?

- A questão não é estar bem.

- Qual é a questão?

- É saber se o bem tem uma trajetória fixa.

- E tem?

- Só quando envolve problemas matemáticos.

- Ah, vá se FODER!

- Ainda não tenho permissão para sair daqui.

- Não?

- Não. Eu sou o eixo de Bia e sua órbita é imutável, eterna e irredutível. Ela orbita o meu não-ser.

- Me desculpe, mas isso tudo não tem sentido.

- Você precisa prestar atenção aos segundos. Compreende? Você precisa sair do passado.

- Mas não estou no passado.

- Os segundos passam...

- Bem, quer dizer que todos vivemos no passado?

- Veja você: Nós não vivemos em estado algum. O passado é o acumulo de imagens que caminha para o seu poço transbordante de vazio interior. O presente é o acompanhamento dos segundos que transitam e também convergem ao poço. O futuro não pode ser provado. Não tem consistência.

- Quer dizer que... Não existimos de fato?

- Eu não posso afirmar nada de concreto sendo abstrato. Eu sou o eixo de Bia.

- Oh, cara...

- Tudo é transitório; você só se encontra ao deduzir que não existe.

- Estou começando a ficar com medo. Isto é existencialismo?

- Isto é atemporalismo.

- O quê?

- O não-tempo presente no não-eu onírico.

- E quem comanda o não-eu onírico?

- A convergência de todo o passado de memórias que constituem o espaço/tempo.

- Você tem um cigarro?

- Claro!

- Obrigado...

- O passado é a composição de todo o universo. Você precisa entender que o vazio é o passado. Quando você entender isto, entenderá o eixo de Bia.

- O passado é infinito, portanto?

- Como?

- O passado é infinito?

- Há uma possibilidade.

- Me explica.

- Bem, para existir o infinito, é necessário que exista o nada.

- Mas e o vazio, não é o nada?

- Ainda temos o eixo.

- Entendo... Quer dizer que se o nada existi, podemos corroborar nossa dedução de que não existimos.

- Pode-se partir deste pressuposto.

- O que acha disso?

- Como?

- O que você pensa a respeito?

- Eu sou o eixo de Bia. Somente o eixo-de-Bia.

- Mas não deixa de ser alguma coisa.

- O que é o nada?

- Aquilo que existe para a não-razão? Há, há, há, há, há.

- E como a não razão pode ser alcançada?

- Você deu um nome...

- Atemporalismo?

- Isto!

- Não, não... O atemporalismo é independente. Estamos falando de dependentes. Estamos falando em ALCANÇAR.

- E como alcançar?

- É fácil. Olhe ao seu redor e me diz o que vê.

- Cara, não consigo ver nada. Está tudo branco.

- Bingo!

JimMorrison
Enviado por JimMorrison em 06/04/2012
Reeditado em 06/04/2012
Código do texto: T3597252