A menina triste

(Gerais, 14/10/2000)

Vestida com um vestido branco e pobre,

Uma menina de 10 anos contempla o padre que preside a missa.

O ato religioso transcorre n´uma casa de família, na roça.

O sol está quente, escaldando às três horas da tarde.

Todos concentram no ofício litúrgico que se desenvolve.

Ha ali velhos, jovens e crianças.

A menina triste está com um chinelinho pobre e bastante surrado;

Seus pequenos pés estão sujos, de poeira.

O seu olhar é bastante tímido, quase por debaixo das sobrancelhas

Precedidas por duas ruguinhas nervosas de sua testa.

A menina triste é bastante triste.

Ela é tímida e irriquietamente triste.

Seu vestidinho branco e desbotado foi oferta de quem dele desfrutou

Quando novo.

Que pena! Além de triste é pobrezinha...

O olhar da menina triste não se fixa;

De soslaio contempla algo que os outros não vêem.

Olha para lá e para cá, não pensa, apenas sofre.

A menina triste não tem irmãos, não tem mãe, não tem escola, não tem uma boa história.

Seus cabelos longos e esfarrapados, estão queimados e arrebentados pelo sol;

Mal penteados são também.

A menina triste quase não conversa e

Foge com certa violência a tudo que é pergunta.

A menina triste não tem mãe, é mal educada,

Não tem modos e vive por viver.

Tem um passado triste, um presente triste e um futuro...

Ela é desalento humano,

Tem um pai que mal dela cuida, pois é pobre e desajeitado.

Ela tem um corpinho que já começa a tomar contornos

Que chamará logo a atenção dos homens.

Tem uma dignidade que está na iminência de ser quebrada...

... pelo pai...

Que parece se interessar por incursões incestuosas sobre

Aquelas curvaturinhas de futura mulher.

... por isso ela é triste!

Adair José Guimarães
Enviado por Adair José Guimarães em 28/01/2007
Reeditado em 01/02/2007
Código do texto: T361143