A ÚLTIMA CEIA...
É um céu cinzento
Uma neblina férrea
Que não nos deixa ver o horizonte
Que nos corta a respiração
E nos emagrece a garganta
À cadência de cada migalha evaporada
O quadro de gaivotas que antes adornavam os ares
E nos recordavam os mares e os rios
Tende a ser rendido por um esquadrão de abutres
Cor de velório com gente de cabeça vergada
Sem lágrimas, porque os olhos
De tão denegridos e mirrados
Já não têm força para chamar as águas
Pela rua caminhamos cada vez mais débeis
Já não entramos em estradas para não nos perdermos
Apoiamo-nos ombro a ombro para não cairmos
Vigiados pelas aves rapinas
Que pacientes e sequiosas de pele humana
Esperam a todo o momento a última ceia.