A ÚLTIMA CEIA...

É um céu cinzento

Uma neblina férrea

Que não nos deixa ver o horizonte

Que nos corta a respiração

E nos emagrece a garganta

À cadência de cada migalha evaporada

O quadro de gaivotas que antes adornavam os ares

E nos recordavam os mares e os rios

Tende a ser rendido por um esquadrão de abutres

Cor de velório com gente de cabeça vergada

Sem lágrimas, porque os olhos

De tão denegridos e mirrados

Já não têm força para chamar as águas

Pela rua caminhamos cada vez mais débeis

Já não entramos em estradas para não nos perdermos

Apoiamo-nos ombro a ombro para não cairmos

Vigiados pelas aves rapinas

Que pacientes e sequiosas de pele humana

Esperam a todo o momento a última ceia.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 23/04/2012
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