Refém de mim própria

Durante muito tempo eu me senti refém. Não existiam sentinelas nem nada que me impedisse de fugir, de driblar tudo aquilo que me prendia (amplo somente em meus conceitos). A barreira, além de baixa, era constituída de isopor. O traje listrado de presidiária que eu afirmava estar utilizando nada mais era do que as inofensivas sombras das falsificadas grades, que acarinhavam o meu corpo, mas eu, entorpecida, nada sentia, nem o sol... nem o chuvisco... nem a ventania... Na verdade, não sentia sequer a mim própria.

Fiquei tão amedrontada com tudo, com maior ênfase, com o pavor daquilo que eu sentia e não conseguiria nunca entender, que me esqueci de que permanecia ali à mostra, nua e ao mesmo tempo vestida, não com o tal traje de presidiária, pois hoje eu sei que ele não existia, porém estava vestida com alguma coisa que ainda hoje por vezes sinto que utilizo: uma armadura medieval! Só que notei, da mesma forma, que um mero e inofensivo sentimento é capaz de me livrar, de me despir, o que buscarei neste instante. É para já! Sinto que já cumpri, há muito, a minha pena... E basta de pena(s) e de prisões!

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 29/04/2012
Código do texto: T3639866
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