Escapismo metafórico

A gente andava para uma ladeira de felicidade

Quando tropeçamos nos segredos de uma pedra infeliz

Lembra?

E fumamos um cigarro azulado, sei lá eu o que era.

Mas fez bem pro corte da perna, ela parou de doer...

E então a gente vê uma coisa que não tava lá.

Era um vulto amulherado. Parte violão, parte flauta.

E um sorriso mais branco que tudo no rosto.

Lembra, coração?

A ladeira era agora lama.

E a gente se afundava no meio dela..

Cavalos vinham a galope na tentativa de nos avisar:

A lama não tinha fundo! Era a perna que encompridava a gente!

Mas passou.

Quando saímos, a sujeira e o barro ressecaram nossa pele.

E eu te lambia achando que ia ajudar.

Lembra?

Aí, quanto mais eu lambia, mais eu ia vendo o tom da sua pele.

Branca, quase azul, que nem o cigarro.

E você dura, olhando pra mulher do sorriso bonito.

Anjo era aquilo.

Havíamos fumado a morte, amor.

Lembra?

A memória de um indivíduo é construída por suas impressões da situação e do mundo em si. Por isso, nunca espere sanidade e sensatez sobre a reflexão do momento trágico de alguém que viveu.

Talita Tonso
Enviado por Talita Tonso em 01/05/2012
Reeditado em 02/05/2012
Código do texto: T3644656
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