AS PRECES DO AÇUDE...

Quando procuro o silêncio

No cancerígeno ruído da cidade

Onde se guerreia a paz

Com a impune tonalidade da palavra

Com a poeira batida do tapete

Que se sacode em varandas porcas e inundas

Com os detritos que voam levados pelo vento

Subo a ponte

Centenária como centenário é o riacho

Que lhe toca as paredes envelhecidas

Os meus passos levam-me ao açude

Que ao longe contrasta com tudo o que abomino

A sua queda tem o som de preces

Que só o meu ouvido conspurcado de ansiedade

Consegue assimilar

Aquele tombar de água fresca

Sempre renovada

E de tez transparente e cristalina

Enche-me o peito rejuvenescido

E a alma do silêncio que procuro

Não tem voz, nem olhar que me fite as faces

São apenas as preces do açude.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 16/05/2012
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