Uns tragos e pronto!

Peguei o cigarro, tremendo, e o acendi. “Ah, o primeiro trago é sempre o melhor...”. Fechei meus olhos na tentativa de evitar pensar. Não adiantou:

Meu corpo suava frio e eu estava sozinha. Era ali, era agora. Havia brigado com tudo e todos, havia brigado comigo.

Somente eu tenho a obrigação de me agüentar. E ali eu sabia que ninguém ia jamais me amar mais do que eu. Tentei um sorriso pelo pensamento, um brinde ao otimismo.

Mas durou pouco.

Sozinha não dá. Satisfação artística, amorosa, financeira, digital, tabagística.. Eu sempre precisarei de alguém.

Um corpo contra o meu durante a noite pra me apertar durante pesadelos, pra me beijar quando eu não quiser, pra me enganar, trair e depois voltar.

Dei mais um trago “É, o primeiro é realmente o melhor..”

Meus escapismos sempre vão de encontro ao meio termo. Nada é tão brutal, tão absoluto que não haja um meio termo. Até a morte tem suas fugas, seu aniversários mal compreendidos. Uma cochilada me faria tão bem... Uma morte por tempo determinado, ponho o despertador vejo se a neurose passou.

Mais um trago.

Não, agora eu não vou conseguir dormir. Meio termo, é disso que eu preciso. Meus excessos sempre incomodaram mais a mim do que aos outros, mas ninguém nunca pensa nessas coisas. Estão sempre tão preocupados em rir das minhas piadas, em satirizar minha dor, em achar graça em qualquer ato meu...

Mas, eu preciso me agüentar, me amar mais do que qualquer um. Mas isso não exclui que eu preciso de pessoas. Elas são... Peraí!

Mais um trago, profundo, seguro a fumaça e solto devagar..

É isso! As pessoas ao meu redor são o meu meio termo! Pensar num mundo de pessoas é muito! Não é pra mim, não me satisfaz, não dá pra chorar ou sorrir por todos, não sou tão grande assim.

Mas ter algumas pessoas pra poder cuidar, pra cuidarem de mim.

Claro! Como eu nunca pensei nisso? Eu não sou capaz de fazer o mundo ter meu embalo! Por isso, por ser extremista, vou logo achando que não preciso de ninguém!

Calma, é isso. Tá, e agora?

Mais um trago.

A tremedeira já havia parado, eu me sentia completa. A felicidade me invadiu por não ter mais que abandonar aos queridos.. Meu suicídio social, meu vazio intelectual, meus intensos pesares emocionais, elas, eles, o cigarro, suco, casa, gozo, música, palavras, minhas roupas, instabilidade, pensamentos..

Tudo me consumindo num nervosismo que eu supus ser o mesmo de “quando você descobre que não vai mais embora do lugar que você mais ama.”

O último trago..

Sim, é esse o lugar que eu mais amo: Eu mesma. Com tudo e todos que me compõe.

Talita Tonso
Enviado por Talita Tonso em 23/05/2012
Código do texto: T3683753
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