Uma Casa;Um Livro; Uma Árvore

A algum tempo atrás -- pouco tempo se levamos em conta a idade do Homem e muito, muito tempo se contarmos com sua memória – dizia-se que, para um homem se sentir realizado no final de sua existência neste plano, era necessário que tivesse no decorrer da vida, construído uma casa, plantado uma árvore e escrito um livro; com isto ele deixaria à posteridade a marca de sua passagem, de suas realizações nesta esfera.. Bom, é claro que nem todo mundo compreendia a verdadeira significação desta metáfora; tal como a árvore ser em realidade sua descendência (tronco, família,frutos, filhos), a casa uma estrutura sólida que abrigasse esta família, tornasse a sua velhice mais confortável e mesmo amparasse aos seus frutos e o livro sintetizava todo o seu trabalho nesta terra fosse ele de que gênero fosse, mais ou menos “importante”, se é que há ocupações menos necessárias que outras.

Era uma imagem romântica esta, dirão alguns, outros em compensação já a acharão pura besteira fruto de um romantismo de época. Tudo vai depender de quem e do como vai ler estas linhas; com que finalidade, com que espírito interpretativo ou até com que aplicação pretenda dar a elas, como todo o mais nesta vida, tudo é relativo (vide a teoria de Einstein).

Há menos tempo atrás ainda (na segunda metade do século passado), já corria uma versão diferente – a qual podemos chamar de moderna -- do que seria a realização de uma existência. Dizia-se já que, para o homem se sentir bem e realizado deveria ter um patrimônio de $1.000.000,00 (hum milhão de dólares), uma mansão e um carro importado clássico (por exemplo, um Rolls ou um Ferrari). Bem já era uma versão bem mais “empolgante”, e eu diria até empreendedora do que seria a realização do ser humano. Mas como o modernismo torna-se rapidamente obsoleto, pelo contemporâneo, foi acrescentado -- em menos de 10 anos -- que, os $1.000.000,00 deveriam ser conseguidos até os trinta anos juntamente com o resto do patrimônio. Percebo ai um aumento na ganância humana, ainda mais tendo-se em vista o aumento da perspectiva de vida, devido ao progresso da medicina e a sua maior acessibilidade ás camadas da população menos privilegiadas. A questão então passa a ser o que levou a esta ganância cada vez maior, quais foram os moveis da busca desenfreada do prazer e do reconhecimento público cada vez mais rápido e com a utilização de seja quais forem os meios (lícitos ou não).

Não sou contra a fortuna (claro!), mas sou a favor daquela que é obtida através do trabalho, sorte ou herança e não daquela obtida por meios pouco lícitos e mesmo, em alguns casos, totalmente criminosos. A sofreguidão do possuir leva normalmente a pessoa ao ter e não se aproveitar do que tem, ao desprezo dos que tem menos e a ignorar os que não tem. Isto é o que leva a humanidade a ter as atuais condições de vida, isto é, sem dúvida, a causa primordial da maioria dos infortúnios que vêm assolando nosso planeta e seus habitantes na atualidade -- o sofrimento, o desamor, a solidão, a descrença no semelhante -- tudo isto e muito mais do que nos perturba são apenas sintomas da doença de que sofremos e, tenham certeza, se já é aguda vai cada vez mais tornando-se crônica.

Me recuso a falar aqui sobre o contágio desta doença, pois sei que todos já observaram o que acontece quando se descobrem comunidades isoladas da dita “civilização”. Até serem descobertas têm uma organização social, uma forma de comportamento e de vida pura eu diria, mesmo irmã; mas basta o contato conosco e RIPUM lá se vai tudo aquilo que tinham, mais ou menos rapidamente, se entregam cada vez mais e mais às nossas práticas esquecendo e mesmo contrariando o que predicava, desde onde alcança sua memória ancestral, seus valores e missão neste mundo.

Pensem nisto, entendam que cada qual que passa a ter outro comportamento significam dois a favor da retomada da razão. Sim dois, pois uma nova pessoa, é menos uma agindo daquela forma mesquinha e predatória de antes.