Hoje

Abre os olhos e acorda. Passa as mãos pela cama.

Ainda estou aqui.

Olha longamente para mim, de um jeito que só estando na cama é possível. Sonda meus olhos.

Ainda há amor dentro deles?

Dá um suspiro. Vacila entre acordar e continuar dormindo. Junta seus pés aos meus.

E eu, que estou a dias sem achar nada que justifique continuar levando essa vidinha medíocre, esse continuo non sense dos atos e das horas, no exato momento que sinto o toque nos pés, me lembro que não precisa sentido. Basta estar viva.

Sinto ali, no meu pé, nas células tocadas do meu pé, a vida trabalhando. A mesma vida que espoca nos meus braços e pernas, dorso e entranhas, coração e cérebro.

E eu havia me esquecido.

Norma de Souza Lopes