Calor

Às vezes nos sentamos diante da tela, do papel, a caneta nas mãos, os dedos prontos, porém, não sabemos o que escrever. Talvez esse seja o pensamento mais clichê do mundo; é pior que "uma bela tarde primaveril", pois, se se esforça o suficiente e está num bom estado de espírito, ainda pode sentir o cheiro deste clichê, mas do qual começo este texto, é mais difícil. É como se alguém lhe perguntasse numa mesa de bar "E aí, o que acha disso?" e você não tivesse absolutamente nada a dizer, mas mesmo assim quisesse impressionar os ouvintes e dissesse a primeira frase pré-fabricada que viesse à sua cabeça. Três vivas aos clichês que nos salvam! A grande verdade é que está um calor do cacete e nada poderia surgir em minha fervorosa mente além desse belo e pronto começo, foi só digitar, foi até fácil; gosto de coisas fáceis, quanto mais fáceis, melhor (pra aumentar a insatisfação, sabem!?). Quando são difíceis e saem do controle, bem, não é minha culpa, eu sempre disse que preferia a facilidade. Inclusive a de pensamento... eu só não a suporto! Estou refugiado numa cidade quase vizinha a que meus pais moram; já não podia suportar aquela cidade, por deus, como alguém aguenta aquilo? E não digo isso pela falta do que fazer, pelo marasmo e semelhantes que se possa encontrar em nossa língua, digo pela provincianidade (isso existe?) do lugar. Lá tudo anda como se fosse pra ser eterno, das pessoas às coisas... deve ser por isso que alguns insistem em destruir o que está construído: não aguentam o sentimento de perpetude daquela cidade. Talvez seja eu, quem sabe, não tenho medo de admitir. Medo? Minhas defesas se levantaram repentinamente: sou eu! Eu saio de lá porque lá eu só sei dissimular, ou, como um primo disse: "Algumas vezes você tem que se lembrar que tem que ser claro com o ouvinte e dizer uma coisa que talvez não seja exatamente a verdade, mas que se aproxime dela!", em suma: eu deixo de ser eu mesmo lá! Não gosto dessa expressão, "eu mesmo" parece algo tão grande, tão inatingível, que detesto usar isto, mas paciência, me fiz entender? Bom, é difícil, de qualquer forma, ser você mesmo quando te pedem para ser M. ou J. ou R. ou D. e etc.; posso parecer covarde falando assim, e até me acho mesmo, mas, pelo crime do padre Amaro, vida em sociedade não é abdicação? Tenho medo de viver sozinho hein!? Ahhhh, você descobriu a América... Claro! Gosto de alguns que tem valores diferentes dos meus e, juro, se um dia encontrar um meio de ser o máximo que conseguir de mim e ainda assim ser o amigo que sou hoje, ligo-te dando as boas novas! O que me mata realmente é não poder pensar, isso é difícil de aturar. As brincadeiras infantis a gente releva, as manias infantis a gente releva, mas não poder pensar me agonia de um forma que ainda estou pra tornar palavra. E eu queria me afastar da Psicologia e derivados nas férias; mal sabia como conseguiria. Não ouço argumentos, ouço grunhidos mal articulados e com uma finalidade não tão bem definida assim. Eu quero poder dar rédeas à minha imaginação de novo, ela está cansada do cabresto de alguns idiotas. Como eu me deixo dominar assim? Sabe lá, talvez eu tenho um traço masoquista forte. Hahahahaha. Talvez sádico, já que o controle é tão fácil entre estúpidos. Admiro a simplicidade de alguns, uma simplicidade de coração, uma simplicidade sincera, que não cobra também a simplicidade do outro. Simples como se deve ser simples. O que fazemos, meus amigos, no meio da orda de paspalhos? Penso em viver a vida intensamente, romanticamente, até, não importa o quão clichê também possa ser esse sonho; não será nesta cidade e não será com todas essas pessoas... Somos um grupo frágil que se dissolverá ao meu primeiro movimento!

Diego Filipe Araujo Alcântara
Enviado por Diego Filipe Araujo Alcântara em 08/02/2007
Código do texto: T373452