Quanto ao aceite do imperfeito

Há algum tempo - porque sabia de certas coisas imperfeitas - disse ao Homem Que Eu Amava: "O que sinto me dói; preciso de sua ajuda para parar de sentir."

Pessoas aplaudiram: nunca, antes, haviam visto tamanhas lucidez e coragem.

Mas eu - porque sabia de outras coisas não tão plenas assim - poderia ter dito: "O que sinto é belo e forte, e há um pouco disso em você. Proponho."

Agora - porque continuo a saber de muitas coisas que nem se importam em ser perfeitas ou não - entendo minha covardia: por angústia de possível rejeição, dei ao Homem Que Eu Amava a única opção de me rejeitar.

Recebi o que pedi, e, anos depois, o que sinto também me dói.

Não é o caso de voltar no tempo, mas reaprendi que a essência do pretérito imperfeito é seu prolongamento.

Gina Girão
Enviado por Gina Girão em 30/07/2012
Reeditado em 30/07/2012
Código do texto: T3805155
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