Animais de Nós Mesmos

Vou começar pensando em um modo de matar alguns leões por dia pra depois pensar como administrar os grilos da minha cabeça. Sem você por perto, talvez eu consiga administrar também essa solidão de cachorro sem dono ou essa incerteza de borboleta quando nasce. Por mais que teu cheiro me atice, por mais que tuas cores vislumbrem meus olhos, essa paz da tua ausência é tão calma quanto o galope suave de um corcel amistoso... Não me negue o direito de rosnar num canto, chorar baixinho e matar pouco a pouco o meu passado como uma viúva-negra mata seu parceiro após a cópula. Preciso desse egoísmo primata por um tempo, que é pra aprender que fidelidade é pra cachorro e mal caratismo é coisa de felino que se esfrega em qualquer perna pela rua. Tenho memória de elefante, nunca se esqueça. Posso aparentar ser uma anta, mas sou tão astuto quanto um ser um ser humano.

Bento Verissimo
Enviado por Bento Verissimo em 31/07/2012
Reeditado em 06/08/2012
Código do texto: T3805776
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