Mudez
Éramos então eu e tu, tu e eu, a grama, o céu e o tempo. Mas, na verdade, éramos todos um só. Tínhamos tempo para olhar para o céu, e, ainda assim, tudo que via eram teus olhos. Meus olhos. Os teus dentro dos meus. E nossas mãos, nossas mãos também estavam lá. Abraçando uma à outra, sem palavras, e cantando mesmo assim. E sabíamos que tudo estava certo. Assim, quieto. Quieto como um sorriso, um alento, tão lento, um beijo. Contemplando. Os pelos eriçados, os lábios tímidos.
O mundo quebra, disseram-me. Todos eles. Falam para e com todos, quem quiser (ou não) ouvir. Falam até sozinhos. Só tu não. Não, eu também não. Nunca acreditei. Só em ti. Sempre em ti. E tu nunca me disseste uma palavra. Não tem problema. Se, para falar, eu tiver que desfazer teus lábios dos meus, prefiro que sejamos mudos. Sim, eu também te amo.