Mudez

Éramos então eu e tu, tu e eu, a grama, o céu e o tempo. Mas, na verdade, éramos todos um só. Tínhamos tempo para olhar para o céu, e, ainda assim, tudo que via eram teus olhos. Meus olhos. Os teus dentro dos meus. E nossas mãos, nossas mãos também estavam lá. Abraçando uma à outra, sem palavras, e cantando mesmo assim. E sabíamos que tudo estava certo. Assim, quieto. Quieto como um sorriso, um alento, tão lento, um beijo. Contemplando. Os pelos eriçados, os lábios tímidos.

O mundo quebra, disseram-me. Todos eles. Falam para e com todos, quem quiser (ou não) ouvir. Falam até sozinhos. Só tu não. Não, eu também não. Nunca acreditei. Só em ti. Sempre em ti. E tu nunca me disseste uma palavra. Não tem problema. Se, para falar, eu tiver que desfazer teus lábios dos meus, prefiro que sejamos mudos. Sim, eu também te amo.

Pedro Costi
Enviado por Pedro Costi em 01/08/2012
Reeditado em 01/08/2012
Código do texto: T3809044
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