Eu era e sou criança.

Sou um jovem notoriamente impulsivo. Reflexo disto é a velocidade com que movo meus olhos e a destreza com que tolero o peso de minha respiração, arquejada compulsivamente. Da impulsividade, natural que a inconseqüência seja sua conseqüência. Não vou, neste texto, revelar meus erros, muito menos minha inaptidão em repeti-los, mas deixo a evidência de que “errar é o melhor aprendizado” por meio da diplomação por reposicionar as atitudes e defrontar as incertezas que me instituem em forma de arte. Na sensibilidade oriunda do acúmulo de experiências, enriqueci e enriqueço.

Descobri a pilastra de quem almeja o objetivo na consternação da discrepância. Vou relembrando, aos poucos, aquilo que quero e aquilo que deixo de querer. Daquele que prontifica o que pode, e o que não pode, como se trouxesse no peito a leitura de pessoas, em poesia, e não de livros, em prosa. Abrimos os livros, e abrir as pessoas traz um bel-prazer especial porque ler pessoas continua sendo a melhor leitura.

Diante disto, viver me afaga, e me faz ficar rico.

Não a riqueza como gordura de bolsos, ou como moedas “gravitantes” no entorno de arguta coroa, mas como ente-possuidor de uma liberdade que nenhuma passagem pode convidar. Viver e libertar!

Como tudo tem seu lado sombrio, todavia, perceber a vida em demasia também traz seus malefícios. Emerge em mim a decorrente insensibilidade, em sendo a incapacidade de desfrutar das coisas como se fossemos ela, e dela, pela primeira vez. Ora, as coisas que julgamos compreender formam um calo enraizado no preconceito e na crítica preordenada, o que exclui a inocência de qualquer pretexto, texto e brincadeira.

Voa o tempo e desaparece a crítica. Voa o tempo e o individual aceita o comum. Voa o tempo e o arrogante repensa pelo maquinário alheio, entregando àquele seu mérito em advogar. Voa o tempo e não deixamos de saborear picolés-sabor-frutas, mesmo quando a insensibilidade oriunda da erosão dos tempos forma uma proteção espessa (e abusada).

Voa, também, o tempo, e com isto a inocência escorre (pela pele e pelos olhos) na naturalidade com que trajamos nossos corações, ainda condecorados pelos mágicos macacões de jeans recomendados pelas tias e pelas avós.

Nesta sistemática, o critério para voltar a perceber o mundo subjetivo e particular com deslumbre é apenas voltar a ser criança - este emérito e condecorado filósofo que, diante de sua inquestionável inocência, lambe os vidros [do carro] e as vidraças [do aquário]. Crescemos, e apenas isto.

É melhor, quão mais cedo possível, ressuscitar a percepção infantil, considerando as sensibilidades como instrumentos e a linguagem como produto daquilo que sentimos.

Um dia a gente morre e assim como o espírito destitui ao corpo, toda esta colheita se desfaz. O homem como sensitivo, através dos olhares de uma criança, vive outra vez e melhor o gosto que todas as besteiras têm.

Alexandre Bonilha
Enviado por Alexandre Bonilha em 18/08/2012
Reeditado em 20/08/2012
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