Introspecção

O movimento dos olhos que as vezes se encontravam, uma palavra dita junta, um sorriso cúmplice e a sensação de já ter vivido outras vidas em algum lugar. O jeito dele, sempre dominador, centro das atenções, tinha uma natureza de eminência, do tom de voz à risada, os gestos expressivos e o jeito único de olhar inquisidoramente que fazia qualquer ser humano querer se teletransportar para quilômetros de distancia.

Sentado em sua frente, despejando milhares de informações, e não podia deixar de reparar no modo como pronunciava as palavras, aquela empolgação típica de quem conta algo pensado e repensado, com o vigor de quem precisa expressar o que tem nas entranhas. Todo o corpo contava de vontades e desejos de conquistar um objetivo, e era hipnotizador observar aquele ser, que em alguns momentos era transparente demais, mas que sempre deixava lacunas que não conseguia preencher com sua mente obsessiva.

Há no mundo quem nos chame a atenção, seduza, quem nos mova com afetos primitivos, mas simplesmente não saberia dar nome ao que a fazia sentir, talvez o desejo de entrar no recôndito da mente dele e observar cada nuance, permanecer silenciosa observado, como quem visita um museu de peças muito raras, em meio a um shopping, o caos da mistura do novo, frívolo ao profundo e belo. Talvez projetasse ideais naquela pessoa, talvez estivesse sensível a ver além, e desejasse mais e mais ir alem,como em um jogo em que a próxima fase convida, mesmo que isso custe horas de sono a menos.

O que prendia os olhos desta mulher, não era o que costumava chamar a atenção das outras, definitivamente se entediava com os elogios que teciam a ele, pois o lugar ocupado simplesmente criava algo de fálico, o poder , e naturalmente as mulheres são atraídas por isso. Entediante o feminino em sua forma clássica, se via andrógina em vários pontos, gostava da profundidade das almas, independente do gênero, conhecia do ser humano o suficiente para não se encantar por mascaras e fantasias, gostava do que não era dito, visto, mas que cabia somente em uma confissão sussurrada, almejava o brilho genuíno dos olhos...

Nunca foi mulher de perder tempo com alma rasa, medíocre, precisava de algo além, sem estereótipos ou perfis, admirou sempre o além de cada um, sua crença tola na essência humana, seus sonhos infantis, simplicidade e complexidade se misturando em caleidoscópio, sua loucura contida parecia sempre ser atraída pelo impossível, as pessoas mais difíceis, nos momentos mais improváveis. E agora, se via lançada pelo destino em um jogo, em um tabuleiro com várias peça e com regras fugazes, objetivos confusos e desejos muitos desejos fervilhando. E sim é difícil às vezes se ver ali, no jogo, sem saber que peça é, sem a noção exata dos movimentos que pode fazer, onde lhe cabe...

E no fim, inegavelmente, somos sempre crianças, tolas, carregando nas costas nossa missão, olhando para os objetivos, raciocinando sobre como chegar, e tendo de sobreviver nos encontros com quem nos move o âmago, quem toca nosso ser, nos faz questionar a moral, os princípios, que ofusca até o que parecia claro, que evidencia o que antes era fosco, que colore com as próprias cores partes que ficavam em escala de cinza e que movem dentre fantasmas e monstros da alma as mais insanas aspirações.

T Sophie
Enviado por T Sophie em 22/08/2012
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