ME LIGUE MESMO ASSIM...
Se sua sobriedade estiver ausente; se a loucura resolveu lhe visitar ou ainda se estiver bêbado, me ligue mesmo assim. Não importa. Sei muito bem escutar um bêbado alucinar-se por sua vida desperdiçada. No entanto, se pudesse escolher, optaria pela sobriedade. Desse modo não teria como duvidar da voz que tenta calar a minha. Acreditarei em suas palavras. Não verei como loucura as frases ditas aos meus ouvidos. Sabes que sou adepta da loucura e das possibilidades de aventura que ela me traz, entretanto, não venha com total falta de lucidez porque em mim já não cabe mais. Venha sóbrio ou ébrio (mas não despido totalmente de alguma sensatez). Pode falar mal de seu trabalho, do chefe que é um porre! Fale mal da política. Reclame do terno que comprou caro e emprestou ao "melhor" amigo, sem devolução. Fale do amor de sua vida, que decidiu sair de casa por não suportar a solidão ainda estando ao seu lado. Porque não conseguiu suportar a falta de companheirismo que não importa à mente de um homem bêbado, quem sabe impotente, imaturo, inseguro e estúpido. Me ligue. Desejo ouvi-lo de qualquer jeito. Quero ouvir sua voz, mas prefiro que esteja inteira sem a rouquidão inóspita da bebedeira. Conheço você, sei como se sente quando busca ser ouvido, tentando justificar seu desespero adquirido justamente no momento em que o mundo acaba no fundo de um copo vazio ou de uma garrafa amarelada sem nenhum líquido. Me conte verdades ou mentiras. Me fale do preço dos impostos, das tarifas e juros bancários; de sua última viagem a um lugar que não conheço. Me fale sobre aquela festa que você ofereceu aos amigos em sua casa, e que eu não compareci por está viajando. Conte de suas mulheres, de seus homens (se por acaso existir). Fale-me de suas humilhações, mas também não economize na elegância de falar da esperança, da alegria, dos passarinhos e das borboletas que sobrevoam ao redor de seu corpo quando se sente livre, descalço e desnudo do peso de tudo. Me fale histórias que há muito tempo não escuto da boca de ninguém, "porque eu o postulei único em meu altar há tempos ocupado por um deserto de adorar ninguém."
Isis Dumont
Inspiração no texto de Letícia Palmeira, a quem agradeço também a partilha.
Imagem do Google, como a grande maioria das imagens que publico.
Se sua sobriedade estiver ausente; se a loucura resolveu lhe visitar ou ainda se estiver bêbado, me ligue mesmo assim. Não importa. Sei muito bem escutar um bêbado alucinar-se por sua vida desperdiçada. No entanto, se pudesse escolher, optaria pela sobriedade. Desse modo não teria como duvidar da voz que tenta calar a minha. Acreditarei em suas palavras. Não verei como loucura as frases ditas aos meus ouvidos. Sabes que sou adepta da loucura e das possibilidades de aventura que ela me traz, entretanto, não venha com total falta de lucidez porque em mim já não cabe mais. Venha sóbrio ou ébrio (mas não despido totalmente de alguma sensatez). Pode falar mal de seu trabalho, do chefe que é um porre! Fale mal da política. Reclame do terno que comprou caro e emprestou ao "melhor" amigo, sem devolução. Fale do amor de sua vida, que decidiu sair de casa por não suportar a solidão ainda estando ao seu lado. Porque não conseguiu suportar a falta de companheirismo que não importa à mente de um homem bêbado, quem sabe impotente, imaturo, inseguro e estúpido. Me ligue. Desejo ouvi-lo de qualquer jeito. Quero ouvir sua voz, mas prefiro que esteja inteira sem a rouquidão inóspita da bebedeira. Conheço você, sei como se sente quando busca ser ouvido, tentando justificar seu desespero adquirido justamente no momento em que o mundo acaba no fundo de um copo vazio ou de uma garrafa amarelada sem nenhum líquido. Me conte verdades ou mentiras. Me fale do preço dos impostos, das tarifas e juros bancários; de sua última viagem a um lugar que não conheço. Me fale sobre aquela festa que você ofereceu aos amigos em sua casa, e que eu não compareci por está viajando. Conte de suas mulheres, de seus homens (se por acaso existir). Fale-me de suas humilhações, mas também não economize na elegância de falar da esperança, da alegria, dos passarinhos e das borboletas que sobrevoam ao redor de seu corpo quando se sente livre, descalço e desnudo do peso de tudo. Me fale histórias que há muito tempo não escuto da boca de ninguém, "porque eu o postulei único em meu altar há tempos ocupado por um deserto de adorar ninguém."
Isis Dumont
Inspiração no texto de Letícia Palmeira, a quem agradeço também a partilha.
Imagem do Google, como a grande maioria das imagens que publico.