Sinfonia

Minha vida é uma sinfonia.

Daquelas sinfonias que oscilam repentinamente entre ritmos e notas. Sinfonia executada pela mais brilhante e competente orquestra. Tocada com os melhores e mais afinados instrumentos.

Daquelas em que horas são calmas, tranqüilas, felizes. Outrora são frias, tristes, solitárias.

Sinfonia que, ao fechar os olhos, posso sentir a beleza que somente a música nos remete, mesmo estando em meio à um grande fardo. Posso ver o farfalhar das folhas douradas em um belo outono; consigo admirar lautas árvores em sua dança lasciva. Vejo rios cristalinos, picosos e tortuantes entre os campos verdejantes de um majestoso bosque encantado. Admiro castelos ebúrneos e esguios, no eclodir do sol entre as montanhas nevadas.

Pelo ecoar da melodia em minh'alma, viajo entre lugares e pessoas; tais quais alguns nunca vi, e outros tantos conheço como ninguém.

Por muitas partes da sinfonia, vou à tempestuosos vales, tristonhos jardins mortos por um rigoroso inverno. Me vejo em meio a terríveis momentos de aviltamento. Me deparo, entre a tessitura dos corais, com o assombro do meu ostracismo, o eco sombrio que espelha meu esmorecimento, e o peso em minhas espáduas.

Há momentos onde sinto a companhia dos coros abundantes, porém por vezes sou um triste solista de violino.

A sinfonia, em si só, não é feliz, nem triste.

Ela é somente o caminho que traçamos conforme nos deixamos conduzir.

Pode conter notas inalcançáveis, ritmos inacompanháveis. Mas mesmo assim, como um todo, pode nos levar a lugares que desejamos estar, voltar, ficar.

Minha vida é uma sinfonia.

E tal sinfonia tem a mim como maestro. Maestro que constantemente muda sua partitura, mas tem em si a grande responsabilidade de dar destino à todos os instrumentos da sua própria vida.

Oscilante, impulsiva, intensa.

Assim é minha sinfonia. E o que sei é que essa longa música nunca pára.

E certamente é magnífica.