SEI DE COR...
Sei de cor os passos do caminhante
Que passeia angústias por solos pantanosos
Da vida que por mais silenciosa
Verte lágrimas que tocam o chão
Da folha da árvore vergada pelo vento
Do rio assustado pela mudança das marés
Sei de cor o choro irritado da criança
O som do trovão que antecipa a tempestade
O grito dilacerante do náufrago em desespero
A voz do crente que pede a Deus que o ilibe dos pecados
O bruar do canhão que acelera a guerra
Sei de cor os contornos das mãos
Que me ajudaram a reerguer
O tom das vozes que me limparam o desânimo
O tilintar das grades que me serviram de prisão
O cheiro do pão com que me reabilitaram
Quando o meu corpo débil ameaçava perecer
Sei de cor as palavras perdidas no silêncio
Do silêncio abafado nas palavras
Sei de cor o que o passado nos faz saber de cor.