SEI DE COR...

Sei de cor os passos do caminhante

Que passeia angústias por solos pantanosos

Da vida que por mais silenciosa

Verte lágrimas que tocam o chão

Da folha da árvore vergada pelo vento

Do rio assustado pela mudança das marés

Sei de cor o choro irritado da criança

O som do trovão que antecipa a tempestade

O grito dilacerante do náufrago em desespero

A voz do crente que pede a Deus que o ilibe dos pecados

O bruar do canhão que acelera a guerra

Sei de cor os contornos das mãos

Que me ajudaram a reerguer

O tom das vozes que me limparam o desânimo

O tilintar das grades que me serviram de prisão

O cheiro do pão com que me reabilitaram

Quando o meu corpo débil ameaçava perecer

Sei de cor as palavras perdidas no silêncio

Do silêncio abafado nas palavras

Sei de cor o que o passado nos faz saber de cor.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 27/09/2012
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