O tempo amarga as mulheres?

O tempo amarga as mulheres?

Quando jovens aprendemos, com nossas mães, que ser uma mocinha exige contenção. Discrição, repressão, ou seja, ser mulher é não ter direito de fazer várias coisas, de preferência tudo o que dá prazer e sentido à vida.

A mãe, a avó tem uma missão: infernizar a vida das novas integrantes da família para sofrerem como elas sofreram,enchendo de culpa e peso, para que o ciclo de infelicidade se repita e se amarguem do mesmo modo que elas. Mania de arrumação: uma ordem irreal na casa, na vida, no tempo, têm filhos para poderem mandar neles, maridos para poderem infernizar, no serviço manterem a fofoca, e nas disputas com suas iguais reforçar um ciclo de futilidade, mediocridade em que a estética e a auto afirmação cretina são o lema!

A limpeza do lar, a melhor desculpa para ser admirada no teatro mais cômico da sociedade: a família! Onde a mulher se dá em prol dos filhos e o pai é o eterno adorno, que se está dentro é incrível mesmo se não fizer nada, e se estiver fora enaltece o potencial que a mulher tem de “dar conta dos filhos sozinha”, é tanta beleza! O masculino, tão livre, é sempre o bem sucedido, o diretor e o chefe, é o admirável, ate que vire marido, em que cai para adorno e seus potenciais são proporcionais a sua capacidade de ficar, ou não, no teatro familiar.

A beleza feminina, só cabe em revistas e pornôs, e que tem que ser explorada em tudo pelo capitalismo, e enaltece o padrão da época, e condena todo o resto a uma luta constante, com gastos exorbitantes, a alcançar este modelo que não garante, de forma alguma, a realização ou felicidade.

A puta ou a santa, estão todas condenadas ao inferno, a primeira ao do julgamento, da “desvalorização” e do menosprezo, a outra a infelicidade ideal, ao eterno esconder-se em subterfúgio socialmente ditos ideais.

A mulher, sempre perdedora, nascida da costela, ferida por todos os homens da historia em sua mais sincera essência, torturada, a divindade do ser feminino foi esmagada pelo machismo latente, que nos coloca em um eterno frustrar-se pelo simples fato de ser mulher.

A delicia do sexo, da beleza, as sensações dionisíacas, o universo pleno da ingenuidade, tudo vendido a baixo preço em prol de uma ordem que doma a fêmea matando sua alma desde o nascimento. A leoa precisa ser gatinha, a loba, um poodle e a mãe assexuada e apagada. O brilho da vida extingue-se, substituímos as sensações por remédios, trocamos o potencial místico do feminino por uma posição pior que a submissão...

Ser mulher, de verdade é sangrar todo mês sem ter sido mulher em todo o potencial, é não gerar nada em seu âmago a maior parte do tempo, é manter o mundo apoiado nas costas e isso ser visto como mais que obrigação. A força que dizem que temos, é nada mais que a capacidade de manter a sociedade em seus padrões, pois acreditamos nas verdades de família e ordem mais que os homens, e nós somos culpadas por treinar nossos filhos a serem cópias sem critica à ordem aleatória que nos ordena. Não queimarei sutiã, nem sairei nua, não apoiarei a libertinagem mas a liberdade, o direito de escolha ao invés da putaria, eu não sou contra o masculino e acredito que as gerações que hoje povoam a terra não são culpadas pelas leis ultrapassadas que as regem, mas são responsáveis pela manutenção destas.

A vida é muito maior que este teatro de sombras, do repetido não discutido, a razão é norteadora, ela ilumina o caminho, e permite ver que sempre há opções. Não aceito ter sido condenada a ser mulher, prefiro reinventar o feminino como acho que deveria ser, prefiro viver a beleza das coisas ao invés de me contentar em sorrisos plásticos, não sou simpática, mas quando gosto é de verdade, não preciso fingir orgasmos pois eu me permito senti-los ou até não tê-los com a naturalidade de uma sensação (psico)fisiológica que não é único objetivo do sexo, eu tenho minhas crenças e vivo delas! Eu sou pessoa, não apenas mulher, sou meu sangue, meus antepassados, sou minhas historia, sou livre, sou um grito e um grunhido, que geme e cala! Eu sou um ser humano e não apenas uma mulher!

T Sophie
Enviado por T Sophie em 07/10/2012
Reeditado em 13/10/2012
Código do texto: T3920571
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