Socialismo

Por mais que tentem “domesticar” o capitalismo, por mais que busquem dar um ar paternalista a este capitalismo, ou por mais que desejem suavizar a verdade crua do capitalismo, uma verdade será eterna: Este capitalismo sempre será injusto socialmente, uma vez que ele “sobre-existe” às custas da exploração do trabalhador, visando o lucro, extraindo este lucro da diferença de capital do quanto realmente vale o trabalho, o serviço ou os produtos vindos deste trabalhador explorado e a venda destes serviços ou produtos ao mercado. O lucro sempre será injusto para a mão de obra trabalhadora.

O princípio e a necessidade do lucro, sempre e cada vez maior, visando dar retorno cada vez mais rápido aos donos do capital, sempre permanecerão como parte ativa de qualquer que seja a “máscara” capitalista em voga. Isto por si só, exige naturalmente a exploração operária, onde cada ser humano é visto e valorado apenas, como um peça de reposição, pelos lucros que possa prover de seus serviços e produtos gerados. Desta forma o Capitalismo sempre nos leva a uma filosofia social alienante dos valores humanos, nos fazendo peças e máquinas, ou capatazes, gerentes, executivos e sócios. A cada um, em seu ambiente, existe a obrigação natural de um tipo diferenciado de alienação humana.

A exploração é tão maior, quanto mais próximo do chão de fábrica, ou da linha produtiva esteja o trabalhador. Entendo que no fundo de nossa alma perceptiva, todos percebemos esta injustiça, esta necessidade de alienação humana, e por fim a exploração do ser humano como um ser apenas capaz de produzir (dar lucro) ou controlar que o lucro seja gerado é mantida indefinidamente. Desta forma o capitalismo nos obriga a uma alienação de nosso humano e social, ou nos leva impreterivelmente ao sofrimento interno, desta forma, em velocidades diferentes, todos nos alienamos em prol da regra maior do capitalismo que é a de dar lucro, de explorar ou ser explorado, que acabamos entendendo como se normal isto fosse, como se a lei do mais forte fosse um viés evolutivo ou divino. Acabamos assim, em algum momento, nos integrando e aceitando esta lei, porque a passamos a perceber como normal e justa, ou porque somos tomados de medo e pavor de encarar de frente esta mazela do capitalismo ou por que de alguma forma nossa classe média algo dela conseguiu, que nos enganamos como se fosse fruto apenas de nosso trabalho, que nos esquecemos que é também fruto de muitas lágrimas, sofrimentos, suor e dores de milhões de desamparados, desabrigados, abandonados e miseráveis seres humanos, que passam a ser invisíveis aos nossos olhos duros e frios. No caso das classes abastadas, o medo é ainda maior porque, direta ou indiretamente se locupletam desta miséria.

Sou socialista, nunca escondi minha posição político-econômica. O socialismo ainda é muito mal entendido e assimilado pela população de classes média e alta. O socialismo ainda é percebido pela grande maioria da população de nosso país, e mesmo do mundo, como tão somente sendo a distribuição da miséria e não como a equalização das riquezas. Associamos diretamente o socialismo as ditaduras onde o poder sufoca toda e qualquer liberdade, mas nos esquecemos de tantas ditaduras de direita que também sufocam, matam e fazem até limpezas étnicas, onde os fascismos, disfarçados ou não, são transvestidos de nomes populares ou sociais, e não podemos nos esquecer que vários destes fascismos nos levaram a várias guerras e em especial a uma que envolveu praticamente todo o mundo.

Como já dizia o, para mim, grande Bertrand Russel, o socialismo não é por si só incompatível diretamente com as regras de mercado, de oferta e de procura, não é incompatível com tecnologias e com conforto, não é incompatível com felicidade social, certa liberdade individual e muita dignidade humana. O socialismo é sim incompatível com os investidores, os donos do capital, especulativo ou não. O socialismo é incompatível com uma sociedade servil do capital, do liberalismo econômico e do neoliberalismo.

O socialismo tem ainda um grande desafio a superar, que é o de realmente equalizar as riquezas, dar fartura mínima de produtos, serviços e lazer que atenda a TODA a população, posto que se não superada a miséria, a opressão, e a exploração trabalhadora, o socialismo é fadado a sua própria destruição, por inanição de vontade e falta de paixão, onde a falta da busca de alguma felicidade humana e social será sua marca maior. Nascemos para sermos felizes, e a felicidade é um bem humano da mais alta necessidade, e vem em geral acompanhada de alguma liberdade, e o socialismo se não provir capacidade para que encontremos esta felicidade e esta, nem que limitada seja, liberdade, cometerá suicídio de livre vontade. A felicidade passa por uma vida social justa e equilibrada. Um socialismo que não permita uma fartura minimamente digna de serviços e produtos, de trabalho e lazer, de cultura e instrução acabará por se destruir, e abrirá assim caminhos, pelo seu próprio empobrecimento, para sociedades falaciosas que reforcem filosofias liberais ou mesmo fascistas.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 07/10/2012
Código do texto: T3920818
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