Sem saber

Eu não quis saber...

Entrei no café habitual e sentei-me à mesa que margeia a janela. Tomei meu desjejum sem pressa, sem fome e acendi um cigarro.

Não haviam preocupações, não haviam lembranças.

Ao nascente, um negro vivo banhava o céu onde nuvens de concreto eram erguidas.

- Vai chover. Murmurou alguém sem rosto.

Sai do café e tomei o rumo da rua para o nada.

Na entrada do parque um casal discutia e crianças brincavam na grama esquecidas pela fúria dos pais.

Continuei sem querer saber...

Apressei os passos, percorri os jardins sem as flores notar e sentei-me num banco esquecido à sombra de uma árvore. Abri o livro que carregava no bolso, comecei a organizar calmamente as suas páginas soltas à medida que mergulhava num outro mundo, numa outra vida, num outro tempo.

Começou a chover... e eu nem quis saber.

Ricardo Matta
Enviado por Ricardo Matta em 27/02/2007
Reeditado em 27/02/2007
Código do texto: T395291
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