Fidelidade ou Lealdade?
Certa vez ouvi discussões sobre fidelidade, sempre guardei em meu silencio minha opinião, pelo motivo simples de não estar disposta a defender meus modo de pensar como se fosse uma "questão a ser discutida”. Sempre pensei que fieis são os cães, que mesmo quando apanham por nossos caprichos, quando o submetemos a nossas leis eles sempre nos defenderão a casa e a vida. Os seres humanos que assim se submetem a outros, perdoando todo tipo de capricho, cultivando companhias que os exploram e abusam tem pouco amor-próprio. Acredito no conceito de lealdade.
Fidelidade e lealdade podem ser colocadas como sinônimos, ate que compreenda a profundidade destas. Os homens são leais, mas esperam de suas mulheres fidelidade. A lealdade é uma troca, se me atende te darei tudo em troca, mas espera a compreensão e aceitação plena das mulheres, afinal, sua relação com o feminino se deu desde sempre com a mãe, o famoso amor “incondicional”.
Mas não é somente da relação homem/mulher que a lealdade me é fundamental, há conceitos de que fidelidade é valor moral e lealdade o emocional: fidelidade obrigação conjugal, lealdade o motivo emocional/afetivo da construção do individuo sobre uma relação a qual se comprometeu. Não é o meu ponto, a lealdade é construída, colocamos um tijolo por dia para valorizar o outro e então, criar uma recíproca de afeto e valor. Fiel é quem carrega um tijolo de submissão, pois acredita em uma bondade que é sua obrigação, em uma conduta que tem que manter por um valor que foi aprendido sem reflexão, sem escolha.
Os sentimentos mais dignos de serem sentidos, as emoções, e finalmente os relacionamentos saudáveis tem que se basear em fatos, e daí escolhas. Ver o outro, desejar, e então começar a construir algo, da amizade ao amor, com as vivências, com a observação, com expressões que confirmem que há um mutuo valor, isso pode ser alicerce de relações saudáveis, quem se firma em valores morais e mandamentos que não foram internalizados enquanto verdade do sujeito, em algum momento cai em meio ao vão, e lidar com a culpa é sempre um sofrimento.
Ser leal a si mesmo e aos outros é ser sincero, verdadeiro, é criar vínculos de troca sem hipocrisia, não é mentir uma bondade, mas é se tornar bom por achar o outro digno de sua bondade, assim como se achar digno. Não somos maus, nem bons, somos humanos:
"Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, entre maldições e preces,
Como se a arder no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.
Pobre, no bem como no mal padeces;
E rolando num vórtice insano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.
Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas com as virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:
E no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora."
Olavo Bilac
O ser humano peca em achar que tem que ser bom, pois não é capaz de distinguir a bondade e se leva por ditares, nem tudo que parece bom faz bem, nem tudo que todos repetem como lei é correto, a vida é feita de seres únicos, com experiências únicas, almas que tem um caminho a percorrer solitário e peculiar, não sem ajuda, mas ninguém vive dentro de sua pele, ou vê com seus olhos, sua percepção é, e sempre será Sua!
Seja leal, dê seu melhor pelo que te move, pelo que te pulsa na alma, o amor verdadeiro pode ser provado no fogo, pode existir infidelidade mas lealdade eterna, pode haver fidelidade sem a mínima lealdade, pode viver de brilho e holofote, um tumulo caiado, e a alma morre sem emoções genuínas.
Seja leal, e com o tempo entenderá que o que chamava de fidelidade era algo precário, pois quem é leal não trai e o faz por escolha, quem é leal constrói pontes, o fiel cria muros e grilhões de ilusões moralistas e se esconde de si mesmo, por temor de manter seu lema, que pouco tem de escolha. Quem é leal pode observar o mundo ao redor, e seguirá seu caminho com quem escolheu, certo de que é o que lhe basta, segue sua alma, confia em quem se mostra digno e vive sem culpas tolas.