Eu te feri? Perdão!

Quando comecei a pensar sobre o perdão, procurei dar diversas definições. Tarefa difícil que parecia não me levar a lugar algum. Defini diversas vezes e de diferentes modos; procurei a raiz da palavra, à maneira dos grandes pensadores. Não deu em nada. Pude chegar à conclusão de que definir o perdão é tão difícil quanto pô-lo em prática.

Foi a partir dessa primeira conclusão que começaram a me clarear as idéias. Veja bem, disse que as idéias começaram a se clarear! E que começo. Uma única questão foi capaz de me direcionar a uma gama de idéias que me possibilitaram expressar sobre o perdão. Desde já, deixo clara uma ideia:

O Perdão é mais que uma vontade, é um sentimento! Eu entendo que a vontade é uma potência ou uma faculdade interior, em virtude da qual nos determinamos a fazer ou não fazer alguma coisa. Já o sentimento é empírico; leva-nos à necessidade de experimentar, ter conhecimento, ter consciência do nosso estado ou de nossa disposição. O perdão é um sentimento.

A questão que levantei foi a seguinte: “o que nos leva a pedir perdão?”. Milhares de respostas começaram a surgir, pois muitos são os motivos que direcionam à necessidade do perdão. Podemos destacar que a ofensa, a humilhação, o desrespeito, a exclusão, a mentira, a falsidade, a inveja, o desamor, a ganância, o ódio e muitos outros motivos nos encaminham ao desejo de reconciliação. Mas, uma coisa importante é evidente: sente o desejo de reconciliação somente quem procura ser companheiro! Isso mesmo, quem é companheiro busca os sentimentos. Então, o companheiro procura perdoar! Companheiro vem de duas palavras latinas: cum (com, junto de) + pane (pão), o companheiro é aquele que come do mesmo pão.

Geralmente buscamos o perdão quando percebemos que agimos errado, sem pensar nos atos ou palavras. E quando percebemos nosso erro, somos atingidos por outro sentimento, a culpa, procuramos extingui-lo com o perdão. Entretanto, pedir perdão não é fácil, pois precisamos entender que aquele que foi ofendido pode ter ainda a ferida aberta. E pior, a chegada torna-se mais difícil quando nos conscientizamos de que fomos nós mesmos que abrimos a ferida. Começam a surgir diversas possibilidades de pedido de desculpas, porém, somos barrados pela probabilidade de não aceitação.

É aí que outro sentimento nos assalta, o remorso. Essa inquietação da consciência parece ferir-nos inconstantemente, pois não sabemos quando vai nem quando vem. Dói demais, e não conseguimos fazer fugir da mente.

Quanto mais queremos nos distrair para fugir desse sentimento, mais ele nos aborda. Corremos novamente à ideia do perdão, nos cobrimos de coragem e saímos em busca do restabelecimento, mas outro sentimento aparece, o orgulho. Orgulhosos, queremos refletir mais sobre a possibilidade do perdão, pois não queremos nosso orgulho ferido.

Começa, assim, um dilema: perdoar ou não perdoar? De um lado somos impulsionados ao perdão, uma vez que a culpa e o remorso nos causam dores incondicionais. De outro, somos levados a não perdoar, já que não queremos nosso orgulho ferido.

Entre o orgulho e a dor da culpa e do remorso, optamos por aquele que nos trará tranqüilidade. E nesse caso, a tranquilidade pode surgir em ambos os casos, isso depende de cada pessoa. Podemos, dessa maneira, classificar dois tipos de pessoas, companheira e não-companheira.

A pessoa companheira é aquela que “come do mesmo pão”, sofre junto, partilha junto, caminha junto, entende junto, ri junto, sofre junto, enfim, o companheiro ama.

A pessoa não-companheira é aquela que não “come do mesmo pão”, porque tem receio que o pão esteja embolorado, e isso lhe fará mal à saúde, deixa o outro comer sozinho e sofrer sozinho, caminhar sozinho, rir sozinho, não ter ninguém com quem partilhar, amar sozinho.

Então, a busca pelo perdão será guiada pelo amor. Se você ama, você é capaz de perdoar, pois esse sentimento existe em você. Se você não ama, o perdão não lhe faz diferença.

Porém, quem ama, terá sempre alguém com quem partilhar seus sentimentos. Quem não ama está fadado à solidão da ausência de companheiros, e este talvez seja o pior dos sentimentos.

“O que nos leva a pedir perdão?”

A NOSSA CAPACIDADE DE AMAR!

Então, se eu te feri, perdão!

Toninho Miguel
Enviado por Toninho Miguel em 09/03/2007
Reeditado em 27/04/2015
Código do texto: T406416
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