A multiplicidade e a consciência

A multiplicidade dos seres que me compõem, e a plasticidade de meu cérebro me faz único para o mundo, complexo em mim mesmo e eterno variante do que realmente sou e de quem realmente me governa.

Iludido pelo livre arbítrio creio-me consciente do que sou, do que quero, do que pratico, do como ajo, do que desejo, dos conceitos que me guiam, das diretrizes éticas que me reforçam o ser, do que penso e de tudo o que faço, da humanidade que me povoa e do amor que construo.

Somos muito mais inconscientes do que gostaríamos de ser e mesmo do que pensamos ser.

Quando tomamos consciência do que pensamos, o pensamento já é passado, já ocorreu. A consciência anda a reboque do que já foi pensado, processado ou sentido mentalmente. Posto desta forma a consciência absoluta e o livre arbítrio irrestrito, por mais revoltante e doloroso que seja aceitar, tende a ser uma falácia mental, uma ilusão coordenada e controlada pelo nosso cérebro, como tudo que acredito ver no presente, é na realidade uma construção mental de um passado, breve que seja. Pensemos juntos, a onda eletromagnética (ou o fóton se preferirmos) refletida no objeto observado leva um tempo para atingir a retina e ser nos bastonetes, um tempo depois, convertida em impulso eletroquímico, que leva outro tempo viajando pelo nervo ótico até o cérebro, que por uma rede de processamento distribuída gasta outro tempo processando e construindo a imagem que necessita de mais um tempo para virar consciência. Entretanto todos percebemos a visão e a consciência do observado como um ato contínuo que ocorre no exato momento em que observamos, como se um ato presente fosse, mas é esta percepção uma das muitas ilusões que o cérebro nos impõe, por ter se ajustado ao longo do tempo, e assim acreditamos ver no momento presente real.

A consciência e o livre arbítrio, são assim, também, processados/pensados antes de termos a real consciência deles. Somos assim iludidos de que temos controle real e consciente sobre nosso livre arbítrio, por nos parecer que pensamos na hora, no presente.

Para agravar esta realidade, somos muitos, e sendo múltiplos somos diferentes sem controle real, e pela plasticidade de nosso circuito cerebral somos eternos mutáveis, alterando nossos seres, o controle sobre eles e dando vida a novos seres. Mas exatamente pela complexidade do que somos é que somos únicos frente ao mundo que nos cerca.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 05/01/2013
Código do texto: T4068265
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