DAS RAÍZES FERIDAS

No início da tarde de 07 de janeiro de 2013

Desde que, há mais de 25 anos, um determinado ser partiu para Outro Plano, a divisão que sempre deve ter existido, camuflada, oculta, foi-se evidenciando pouco a pouco, cada vez mais, expurgando de nós as melhores lembranças, as melhores alegrias, as melhores esperanças até o confronto terrível, há dois dias, a ferida exposta devidamente e em ocasião absolutamente indevida... ou não, nem o sei dizer.

Ramos da mesma árvore, feridos desde a raiz... o vento feroz os devastou a eles, ramos. Preciso, não sei como, transportar-me até você, recapturá-lo em mim, tentar, não sei ainda como, ser-me um pouco você, na sua própria Solidão de mesma raiz, de mesma dolorosa raiz, da mesma terrível divisão original. Não sei se você pretende realizar o mesmo abissal processo interior, não o sei. Essa é sua escolha, exclusiva. Exclusiva escolha sua.

Neste momento, a única coisa que consigo realmente me dizer é que preciso realizar esse trabalho interior de redenção de você em mim, de redenção de mim em mim, antes de partir para Outro Plano. Quando chegar minha hora de partir – que espero ainda demore o necessário - pretendo partir sem essa terrível fissura na alma, sem essa ferida que me amputou da lembrança os poucos tesouros da minha infância, da minha adolescência, da minha mocidade, minha e sua. Espero que esta Necessidade exista em você, também.

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