Sem você

E quando eu olho pro meu corpo desfigurado, me lembro que bem aqui, existiu um nós. Chega ser até engraçado, meus dedos caminharem sobre meu corpo a sua procura e, de fato, não mais te encontrar em mim.

Eramos tudo, dividido em dois. Hoje sou nada, dividido em um. O roçar de sua pele que ainda habita minha mente, te encontra apenas em lembranças. Seu perfume que ainda habita minha cama, não consigo tirá-lo de lá. Me falta força, coragem e fé para assimilar nosso fim. Muito mais fé de acreditar que não mais terei seus lábios junto aos meus. Muito menos escutarei besteiras para me fazer sorrir. Falta um pedaço de mim, que morreu junto a você. E não consigo fazer algo, se não chorar.

E se eu choro, me deito. Se lembro de você, choro. Procuro seu colo para me acalmar em nossa cama vazia. Desejo insanamente suas mãos em minha nuca, apaziguando à alma e tecendo em mim esperanças de que irei melhorar, de que a tempestade irá passar. Não passa, não me acalmo. Te procuro ainda mais em meus lençóis sem esperança, afogado em minhas lágrimas à sua procura. Engulo pesares, um por um. Grito mais forte, mais alto. Aperto ainda mais o travesseiro, mas você não vem. Simplesmente se foi. Me desespero por não acreditar que tenha partido. Hoje me encontro perdido em um deserto chamado nós.

Não tenho forças para caminhar. Nossa vida se transformou em minha sepultura. Do pouco que caminho, me recuso a olhar o monstro que vejo no espelho. Quando me vejo te procuro tanto em mim, e nunca acho nada do que eu queria. E se te imagino, choro tanto ao lembrar de você dizer que me ama. São lágrimas solitárias. Rolam por conta própria sem força de se resguardarem. Procuram a ti, e quando acham apenas a mim, se entristecem tanto que evitam a imagem duas vezes. Evitam esperanças perdidas. Evitam meu reflexo no espelho.

E mesmo que o meu mundo acabe em mim. Lembre-se de nós, aonde quer que esteja, pois nunca serei forte para esquecer você. Serei covarde a ponto de nunca te dizer adeus. Em seu leito, sei que repousei suas rosas, mas as mesmas estavam fixas a minha essência. Meus desejos se prenderam ali. Sou covarde ao não mais me sentir em mim. Abandonei a mim mesmo, assim como se sente abandonada agora, penso eu. Serei o eterno vazio de tudo aquilo que fomos um dia sem indícios de um fim, até que a morte visite me levando ao seu lado, meu doce e verdadeiro amor.

Marçal Morais
Enviado por Marçal Morais em 22/01/2013
Reeditado em 22/01/2013
Código do texto: T4099038
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