AS TROVAS QUE O VENTO ENTOA...
Tu que varres o pó que cobre a planície
Que sopras sobre os rios e que devastas mares
Que dás força ao lento voar do condor
E te enfureces com a irracionalidade do homem
Para um pouco
Ouve-me num momento em que também sofres
Entoa-me uma trova
Que não tenha a ver com a violência dos teus sentidos
Sente os acórdãos da melodia que te ofereço
Como se de mim saísse o apaixonante som da harpa
Que ilumina o espaço do nosso encontro
E de ti a voz dolente que te transforma em brisa
Acompanha-me nos meus deleites
Sem ser preciso saíres do abstrato que te compõe
Porque o meu corpo te sentirá sempre a seu lado
Entoa-me uma trova quando os meus lábios
Procuram a frescura de outros lábios
Ou as minhas mãos passeiam sobre um corpo de veludo
Não te feches no silêncio
Quero sentir que estás comigo
Quando o meu corpo se fecha noutro corpo
Não te abraço
Porque os meus membros estão entregues à febre do desejo
Mas sei que estás ali
Porque sinto a tua doce brisa suavizar o meu braseiro
E no final
Cansado e ofegante
Agradecerei às trovas que o vento entoa
O cântico que me ajudou a adormecer