AS TROVAS QUE O VENTO ENTOA...

Tu que varres o pó que cobre a planície

Que sopras sobre os rios e que devastas mares

Que dás força ao lento voar do condor

E te enfureces com a irracionalidade do homem

Para um pouco

Ouve-me num momento em que também sofres

Entoa-me uma trova

Que não tenha a ver com a violência dos teus sentidos

Sente os acórdãos da melodia que te ofereço

Como se de mim saísse o apaixonante som da harpa

Que ilumina o espaço do nosso encontro

E de ti a voz dolente que te transforma em brisa

Acompanha-me nos meus deleites

Sem ser preciso saíres do abstrato que te compõe

Porque o meu corpo te sentirá sempre a seu lado

Entoa-me uma trova quando os meus lábios

Procuram a frescura de outros lábios

Ou as minhas mãos passeiam sobre um corpo de veludo

Não te feches no silêncio

Quero sentir que estás comigo

Quando o meu corpo se fecha noutro corpo

Não te abraço

Porque os meus membros estão entregues à febre do desejo

Mas sei que estás ali

Porque sinto a tua doce brisa suavizar o meu braseiro

E no final

Cansado e ofegante

Agradecerei às trovas que o vento entoa

O cântico que me ajudou a adormecer

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 09/02/2013
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