A Arte de Amar
(1 Cor 13, 1-13)
Um jornalista visitava um hospital e, ao ver a solicitude e o carinho com que uma irmã, madre Teresa de Calcutá, limpava as feridas de um pobre mendigo, disse com um lenço no nariz para suportar odor:
- Irmã, eu não faria isso nem por um milhão de dólares!
A irmã levantou os olhos doces e tranqüilos para o jornalista e lhe disse:
- Eu também não faria por um milhão de dólares. Faço-o por amor a Deus e a esse meu irmão doente.
Se o amor é uma arte, é preciso aprender a Arte de Amar.
Essa arte pôde e pode ser vista em Madre Teresa de
Calcutá, que já foi beatificada pelo Santo Padre.
Amar sem esperar retribuição. Lembro-me de Rubem Alves.
Ele escreveu uma crônica com esse título: Amar sem esperar Retribuição. Na crônica lembra que não é difícil amar sem esperar nada em troca, pois o amor é diferente a cada momento; quando crianças nosso amor é diferente do amor quando jovens, adultos, idosos... ele acompanha nossas fases.
O místico Ângelo Silesius disse que “A rosa não tem porquês, ela floresce porque floresce”. Parafraseando, podemos dizer que “o amor não tem porquês, ele ama porque ama”. Também o poeta Carlos Drummond falava isso: “eu te amo porque te amo... amor é dado de graça”. Amor é doação, por isso não espera retribuição, mas correspondência amorosa dos gestos amorosos. É preciso sentir a presença amorosa.
O olhar, o sorriso e o gesto – comunicação do espírito.
Quem melhor soube essa comunicação do espírito foi Jesus, nosso grande mestre na Arte de Amar.
Ainda Rubem Alves: “é preciso distinguir o ‘sentimento amoroso’ da ‘relação amorosa’. ‘Sentimento amoroso é algo que existe dentro da gente, independentemente do que o outro faça. Posso estar perdidamente apaixonado por alguém que não me ama. A ‘relação amorosa’, entretanto, não é algo que existe ‘em mim’. é algo que existe ‘entre’ duas (ou mais) pessoas que se amam. É uma ‘relação’. E toda relação exige ‘reciprocidade’”.
Precisamos ter uma relação amorosa com nossos irmãos e irmãs, e principalmente com Jesus. É como um jogo de peteca, Jesus joga a peteca. E nós? Devolvemos e jogamos com Ele? Ele é nosso parceiro? Nós somos parceiros dele?
Se lhe correspondemos, aí existe amor.
Jesus, ao vir para esse mundo, trouxe consigo o modo de viver de sua Pátria, a Pátria Celeste. Ensinou-nos que a difícil arte de amar não é tão difícil quanto imaginamos.
O cardeal vietnamita François X. N. Van Thuan nos indica elementos característicos da arte de amar:
“Ser O Primeiro A Amar...
ama sem interesse, sem esperar ser recompensado (...)
Amar A Todos
Somos chamados a ser pequenos sóis ao lado do Sol do Amor que é Deus (...)
Amar Os Inimigos
Jesus insistiu muito sobre essa característica do amor cristão, e só com essa disposição interior é possível construir a verdadeira paz na Terra (...)
Amar Servindo
Amar significa tornar-se ‘eucaristia’ para os outros, identificar-se com eles, partilhar de suas alegrias e dores.”
Madre Teresa: “Para amar uma pessoa é necessário que ela esteja próxima da gente”.
O mundo gosta de falar de amor. O mundo gosta de falar de paz. Mas, o mundo gosta de viver o amor e a paz?
Há quem diga que sim. Mas acredito que não, pelo menos não são todos os que procuram viver essas duas realidades. E aí, quando falamos de não viver amor e paz, logo pensamos em guerras, ataques terroristas, tráfico de drogas, assassinatos, assaltos... pensamos em atos de grandes proporções. E em casa, no trabalho, no estudo, no relacionamento com os outros, somos sempre testemunhas de vida no amor e na paz? Infelizmente, nossas famílias não vêm se destacando pela prática do amor, e por isso não conseguem viver em paz.
Existem pais que aprisionam os filhos e não dialogam com eles; existem filhos que não querem dialogar com os pais, e gritam e se trancam nos quartos, ou saem pelas ruas, sem rumo. Algumas pessoas, em “honra” do vício, chegam em casa destruindo tudo, batendo em todos, gritando com quem aparecer. E quando falo em vício, não estou me referindo somente às drogas, existe o vício do álcool, do fumo, da televisão, do sexo desenfreado, do desamor, do vício da confusão, é verdade, existem pessoas que não são capazes de ver tudo tranqüilo, e por isso arrumam confusão por qualquer coisa.
Há algum tempo definem a paz como ausência de guerra. Discordo. Não é a ausência da guerra que vai trazer a paz.
A ausência de guerra é conseqüência da paz. Quem vive a paz não sabe o que é guerra, pois não sabe viver sem paz.
E para que haja paz é necessária a vivência da reconciliação, do respeito mútuo, da compreensão, do afeto, é necessária a vivência do amor. Desta maneira podemos dizer que amor e paz estão sempre juntos. Se nós nos amamos e amamos os outros, vivemos em paz. São Paulo sabia disso quando escreveu à comunidade de Corinto. Aqui ofereço minha atualização do texto de Paulo:
**Eu posso saber falar em vários idiomas, alemão, francês, inglês, posso até saber me comunicar com seres de outro mundo, mas se em tudo isso não tiver o amor, eu simplesmente sou como uma orquestra que toca em desarmonia.
Ainda que eu denuncie a injustiça e anuncie a verdade, que eu descubra tudo que está escondido, ou saiba fazer de tudo, ainda que eu tenha a fé do tamanho de um grão de mostarda, se o amor não se fizer presente em tudo isso, eu sou um nada. “Se eu conhecesse todas as teologias, mas não tivesse amor, teria tudo, menos Deus a meu favor! ”
Posso sair por aí fazendo filantropia, levando comida na favela, sopa no Hospital de Base; posso até me prejudicar para ajudar o outro, se eu não tiver amor, todas essas ações não têm valor.
O amor é igual colo de mãe: é paciente, prestativo, confia e não tem ciúme, conhece e compreende sem guardar mágoa, nada faz em busca de reconhecimento próprio, não admite roubos, imoralidade, orgulho, malícia, crimes, ambições sem limites, inveja, mentira, não gosta (nem tampouco se alegra) com injustiças, mas ao contrário disso, ama a verdade e nela encontra sua alegria.
Aguenta tudo, acredita tudo, espera e desculpa toda ofensa.
O amor nunca há de se acabar, nunca vai se desintegrar. Em contrapartida, porém, tudo mais desaparecerá: nossas profecias, nossos idiomas e culturas, nossos conhecimentos e nossos títulos, pois isso tudo é limitado. “Vem do passado, mas não é ultrapassado. ”
Agora nós conhecemos a Deus como a imagem refletida na água, mas depois o veremos de modo nítido.
Fé, esperança e amor são três coisas que ainda permanecem, mas o que nos mantém vivos como Igreja e unidos como irmãos é o amor, porque ele é eterno.**
Erich Fromm, em sua obra “A Arte de Amar”, lembra uma expressão francesa: “l’amour est l’enfant de la liberté” –
O Amor é Filho da Liberdade. A liberdade existe como um grande respeito ao amor.
Terminando esta meditação, peçamos ao Senhor a sabedoria de amar, a arte de amar. E nos inspiremos em Maria, mãe de Jesus, para levantarmos a bandeira da Paz e difundir o Amor, por um mundo melhor.
Guardemo-nos em oração e meditação.